biofarmacos-alfaepoetina-bio-manguinhos-fiocruz-2012Havana foi palco, em outubro, do Workshop Binacional Brasil-Cuba sobre o Uso de Eritropoietina. O evento avaliou os 15 anos de uso (em Cuba) e nove (no Brasil) da alfaepoetina, biofármaco para tratamento da anemia por insuficiência renal crônica; anemia em pacientes com AIDS em regime terapêutico com zidovudina; e de pacientes oncológicos em tratamento quimioterápico.


A eritroproetina humana recombinante, como o medicamento é chamado pelos cubanos, conta com mais de 50 registros sanitários em 25 países. No Brasil, Bio-Manguinhos produz o biofármaco para o SUS desde 2006.

"Esta droga que mudou radicalmente a prática clínica no tratamento da anemia de pacientes renais crônicos", afirmou a gerente médica e de Assuntos Regulatórios do Cimab, empresa comercializadora do Centro de Imunologia Molecular (CIM) cubano, Patricia Piedra.

"Hoje, o Centro de Imunologia Molecular tem uma planta de produção dedicada a este medicamento e produz todas as informações necessárias para o sistema público de saúde cubano, e para transferência de tecnologia ao Brasil. Além disso, temos quantidades exportadas para Índia, Vietnã e outros territórios na Ásia e na América Latina", ressaltou Patricia.

Gerente do projeto de transferência de tecnologia em Bio-Manguinhos, Rodrigo Coelho Ventura ressaltou que o Ministério da Saúde brasileiro atualmente importa 13 milhões de frascos produzidos no Cimab, o que equivale a cerca de 14 mil litros do medicamento, envasados em Bio. “Desde 2005 conseguimos incrementar em quase quatro vezes o acesso da população brasileira a este produto, de forma gratuita”. Destacou Ventura.

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                                                                  Rodrigo Coelho Ventura durante workshop. Imagem: Mailín Guerrero Ocaña/Granma
A presidente da Sociedade Latino-americana de Nefrologia e Hipertensão (Slanh), Liliana Chifflet, esteve presente no workshop e elogiou o fluxo de trabalho estabelecido entre Bio-Manguinhos e o Cimab cubano, apontando-o como exemplo a ser observado por formuladores de políticas públicas no continente.

“A transferência de tecnologia é essencial por permitir que os países latino-americanos possam produzir medicamentos biológicos que têm altos custos de produção, permitindo a moderação dos preços no mercado e facilitando o acesso a toda a população da região”, destacou.

Não à toa, ela aponta o trabalho conjunto entre os ministérios de saúde e as sociedades médicas como fundamental para o esclarecimento de dúvidas e conhecimento recíproco de necessidades e desafios.

“Os ministérios da saúde dos países da América Latina, com a participação ativa das academias e sociedades científicas, nesse caso a de Nefrologia, podem otimizar as políticas de saúde nessas patologias. A elaboração de programas de treinamento para nefrologistas e projetos de investigação neste campo, são ações possíveis no âmbito de uma cooperação inter-agências no interior de cada país, a fim de otimizar o uso de recursos em cada nação e na América latina como um todo”, concluiu.
Também presente em Havana, a coordenadora da Assessoria Clínica (Asclin) de Bio-Manguinhos, Maria de Lourdes Sousa Maia, destacou a importância dos debates ali travados para auxílio dos estudos clínicos de fase IV que Bio terá de fazer com pacientes da alfapoetina no futuro próximo.

“Estamos preparando estudo clínico que visa olhar a segurança do produto. Para isso foram gratificantes e enriquecedoras as relações que estabelecemos com as sociedades brasileira e latino-americana de nefrologia”, ressalta Maria de Lourdes.

Parcerias em pauta

De acordo com a coordenadora da Asclin, quando questionados sobre sua avaliação do produto, representantes da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) presentes ao evento informaram jamais ter recebido qualquer reclamação por parte de algum médico prescritor sobre o uso da alfapoetina disponibilizada por Bio-Manguinhos ao SUS brasileiro.

Durante a ocasião, foram fortalecidos os laços com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), cujo primeiro desdobramento é visita que representantes da entidade farão a Bio-Manguinhos no início de dezembro.

“Eles virão a Bio e já solicitaram participação nossa no Congresso Brasileiro de Nefrologia, que ocorrerá em setembro de 2015, quando teremos a oportunidade de montar um curso pré-congresso. Será ainda uma boa oportunidade para nós apresentarmos à sociedade médica nossas potencialidades e participação no segmento de biofármacos, já que muitos nos conhecem apenas pela fabricação de vacinas”, ressaltou Maria de Lourdes.

 

Daniel Rinaldi

Presidente da SBN, Daniel Rinaldi dos Santos concedeu entrevista ao site de Bio-Manguinhos. Nela, Daniel comenta o workshop em Havana, apresenta os desafios do tratamento de doenças renais crônicas e aponta o desejo de compartilhar com Bio os cenários e desafios na nefrologia. Confira na íntegra. 

 

Bio-Manguinhos - Qual a importância da introdução da alfaepoetina para o atendimento aos pacientes do sistema público de saúde no Brasil?

Daniel Rinaldi dos Santos – A anemia é uma importante complicação em pacientes com doença renal crônica e geralmente se inicia no estágio 3 da doença. A anemia da doença renal crônica é na maioria dos pacientes nomocrômica e normocítica. A causa principal é a diminuição da produção de eritropoetina pelos rins em decorrência da redução da massa e função renais, e numerosas outras causas também contribuem para a sua ocorrência. Anemia está associada com aumento da morbidade e mortalidade, principalmente por complicações cardiovasculares, com risco aumentado de hospitalização e aumento da mortalidade em pacientes não dialíticos.

Até 1989, a transfusão sanguínea era a única alternativa para a correção da anemia nos pacientes com doença renal crônica, sendo que a introdução da eritropoetina revolucionou o tratamento destes pacientes.

A prevalência de doença renal crônica é de 50 por 100 000 habitantes no Brasil, e atualmente temos em torno de 100 000 pacientes em programa dialítico (90% em hemodiálise e 10% em diálise peritoneal) sendo que 85% dos mesmos realizam tratamento pelo Sistema Único de Saúde. Estima-se que em torno de 400 000 pacientes são portadores de doença renal crônica nos estágios 4 e 5 não dialíticos, sendo grande a ocorrência de anemia nesta população.

 

BM - Como você avalia a importância da produção desse medicamento no Brasil?

DRS - A produção da alfaepoetina no nosso meio será extremamente útil para garantir o fornecimento contínuo e a manutenção do tratamento dos pacientes e responder de imediato a aumento da produção de acordo com as demandas do mercado. A aquisição de novas tecnologias na produção de medicamentos, como a intensa fabricação de vacinas e a diversidade de biofármacos com certeza agrega grandes valores à Bio-Manguinhos com posição de destaque dentro das empresas que atuam no setor de saúde no cenário mundial.

 

BM –Era do conhecimento de vocês que Bio-Manguinhos produz biofármacos, além de vacinas?

DRS - As sociedades médicas necessitam de um maior entrosamento e conhecimento das áreas de atuação de Bio-Manguinhos, inclusive disponibilizando espaços em seus congressos e eventos científicos, para a exposição das atividades desenvolvidas na área de saúde, facilitando a discussão para propostas de trabalhos conjuntos.

 

BM - Que tipo de parcerias você vislumbra entre a Sociedade Brasileira de Nefrologia e Bio-Manguinhos?

DRS - Os nefrologistas são com certeza os maiores prescritores da alfaepoetina, sendo imenso o interesse dos mesmos de conhecer todo o processo da sua produção, distribuição e acompanhar estudos clínicos que reforçam a sua adequada resposta terapêutica.

 

- Qual sua avaliação sobre o evento em Cuba?
DRS - Este evento realizado recentemente em Cuba foi extremamente importante para início de uma parceria entre a Sociedade Brasileira de Nefrologia e Bio-Manguinhos, abrindo a possibilidade de trabalhos conjuntos, como por exemplo, na investigação de ausência de resposta ou resistência ao uso da alfaepoetina.

 

- Que tipo de parcerias foram lá estabelecidas?
DRS - Foram dois dias de intensos trabalhos e com discussões de alto nível, onde foram abordados aspectos da produção da alfaepoetina, transferência de tecnologia, atividades desenvolvidas, produtos disponíveis por Bio-Manguinhos e aspectos clínicos de diagnóstico e tratamento da anemia na doença renal crônica.

 

Jornalista: Paulo Schueler

 

 

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