Durante a presidência brasileira pro tempore do BRICS em 2025, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de Vacinas do bloco vem acumulando conquistas importantes rumo ao objetivo de desenvolver imunizantes de grande impacto para os países-membros e para a saúde global. A terceira reunião do Centro de P&D de Vacinas do BRICS (Vaccine R&D Center), realizada virtualmente em 25 de setembro e organizada por Bio-Manguinhos/Fiocruz, reuniu representantes de governos, instituições científicas e agências regulatórias em torno de temas centrais para a consolidação das atividades do Centro.
Entre os pontos mais aguardados da reunião esteve a resposta à provocação feita pelo presidente da Fiocruz, Mario Moreira, durante a Conferência dos Institutos Nacionais de Saúde Pública dos BRICS, realizada este mês. Moreira sugeriu que o bloco definisse uma vacina prioritária para desenvolvimento conjunto. Nesse contexto, Ricardo de Godoi, vice-diretor de Inovação de Bio-Manguinhos/Fiocruz, apresentou a proposta de uma vacina contra a tuberculose, justificando a escolha pelo peso da doença nos países do BRICS, que juntos concentram mais da metade dos casos globais. Ele detalhou os próximos passos: identificar os parceiros interessados, selecionar a plataforma tecnológica, estruturar um modelo de cooperação e buscar financiamento junto ao Novo Banco de Desenvolvimento, ao Banco Mundial e a outros bancos multilaterais.
A proposta foi recebida com entusiasmo pelos participantes, que ressaltaram seu potencial estratégico. O enfrentamento da tuberculose, lembraram, vai além do desafio de saúde pública, representando também uma oportunidade de desenvolvimento científico e tecnológico. A iniciativa está em sintonia com a Estratégia End TB da OMS, que estabelece a meta de reduzir em 80% a incidência e em 90% as mortes pela doença até 2030.
Desde o início do ano, os países têm se dedicado a questões estratégicas, como o mapeamento de capacidades, a identificação de necessidades e a definição de perspectivas para novas parcerias. Em junho, foi instituído um grupo de trabalho responsável por estruturar a Plataforma Eletrônica de P&D (Electronic R&D Stock), proposta originalmente apresentada pela Rússia em 2024. O grupo vem se reunindo mensalmente e apresentou, neste terceiro encontro, avanços significativos na elaboração de seu termo de referência. A exposição foi conduzida por Beatriz Fialho, chefe de Inteligência Competitiva de Bio-Manguinhos, e recebeu elogios pelo progresso alcançado em pouco tempo.
Outro momento de destaque foi a retomada da discussão sobre o marco de referência (framework) do Centro de P&D de Vacinas do BRICS, originalmente apresentado pela China em 2022, quando o grupo era formado apenas por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com a ampliação do BRICS e a necessidade de transformar planos em ações concretas, o debate sobre governança tornou-se prioritário.
Na apresentação, Guilherme Pimenta Cyrne, assessor especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Saúde, ressaltou os próximos passos necessários: consolidar o apoio político dos governos, revisar a proposta de acordo de cooperação, detalhar os termos de referência e a teoria da mudança, além de estruturar a governança com representantes em diferentes níveis decisórios. A expectativa é que, a partir dessas definições, o Centro entre em sua fase de operacionalização.
O encontro também trouxe atualizações sobre o Encontro das Autoridades Reguladoras de Produtos Médicos do BRICS, realizado em junho. A apresentação foi feita por Laila Sofia Mouawad, especialista em Vigilância Sanitária e Regulação da Anvisa, que destacou o papel do fórum na cooperação entre as agências regulatórias nacionais. Desde 2014, essas reuniões anuais promovem a troca de informações, a assinatura de memorandos de entendimento e o fortalecimento de processos regulatórios. Para o Centro de P&D de Vacinas, o reconhecimento conjunto das autoridades regulatórias é considerado essencial para garantir o acesso a medicamentos e vacinas seguros, eficazes e de qualidade.
A agenda incluiu ainda uma sessão dedicada à troca de experiências sobre regulação em P&D, propriedade intelectual, transferência de tecnologia, acesso a financiamento para pesquisa e infraestrutura. Esses tópicos, apontados como prioritários nas reuniões anteriores, foram retomados como elementos-chave para viabilizar os objetivos do Centro.
Encerrando a reunião, Ricardo de Godoi reforçou o espírito de cooperação que tem guiado os trabalhos e citou versos de Carlos Drummond de Andrade: “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito. Vamos de mãos dadas.”
A terceira reunião do Centro de P&D de Vacinas dos BRICS consolidou o compromisso dos países em transformar colaboração em resultados concretos, posicionando o Centro como um espaço estratégico para o desenvolvimento de vacinas inovadoras, acessíveis e capazes de salvar vidas, dentro e fora do bloco.
Jornalista: Marcela Dobarro
Imagem: André Rocha