O carnaval é uma das datas mais esperadas e celebradas no Brasil, e ao longo desses dias comemora-se a alegria, a liberdade e o amor. E falando em romance, é corriqueiro o flerte que começa com música e confete, e quando o clima esquentar é muito importante lembrar dos cuidados para prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) através dos preservativos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), A cada dia, há mais de 1 milhão de novos casos de ISTs curáveis entre pessoas de 15 a 49 anos, já no Brasil, dados divulgados no ano passado pelo Ministério da Saúde revelaram que 1 milhão de pessoas viviam com HIV no Brasil em 2022.
Embora esses dados sejam alarmantes, o uso de preservativo ainda não é uma realidade para muitas pessoas, sobretudo os jovens. De acordo com o IBGE, de 2009 a 2019, o porcentual de pessoas entre 13 e 17 anos que usaram preservativos na última relação caiu de 72,5% para 59%. Entre as meninas, a queda foi de 69,1% para 53,5% e, entre os meninos, de 74,1% para 62,8%. Uma pesquisa publicada pela Sociedade Brasileira de Urologia mostrou que 38% dos meninos admitem não saber sequer colocar o preservativo, sendo o sexo ainda considerado um tabu, pois 41% afirmaram não conversar com ninguém sobre o tema.
De acordo com a médica epidemiologista de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Eliane Matos, o carnaval é uma oportunidade para falar sobre a importância da proteção que deve se estender a todo o ano. “Muitas pessoas não se enxergam numa situação vulnerável e acabam se colocando em risco, por isso é importante conscientizar a população sobre a necessidade de se proteger”, destaca.
A epidemiologoista ainda ressalta que os postos de saúde oferecem gratuitamente o preservativo masculino ou feminino, métodos eficazes para a redução do risco de transmissão das ISTs, além de evitar gravidez.
Prevenção combinada
No carnaval também é um momento para falar sobre a prevenção combinada, que busca evitar novas infecções pelo HIV, com base nos comportamentos de cada grupo ou pessoa. “É a combinação de três tipos de intervenções: biomédica, comportamental e estrutural através dos marcos legais, aplicadas ao âmbito individual e coletivo”, explica Eliane Matos.
Ela cita como exemplo o uso do preservativo masculino ou feminino, fazer a profilaxia pré ou pós exposição ao HIV, estar com as vacinas para HPV e Hepatite B em dia, a prevenção da transmissão vertical (da mãe para o bebê durante a gestação), a testagem regular, diagnóstico e tratamento precoce das infecções, dentre outras ações.
A médica explicou sobre a importância da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP). A primeira é indicada para pessoas que não vivem com o HIV, utilizando diariamente uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais, reduzindo em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao HIV.
Já a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é um recurso emergencial para pessoas que possam ter sido expostas à infecção, seja por situações como relações desprotegidas, rompimento da camisinha, violência sexual ou acidentes ocupacionais por profissionais da saúde.
Kits de diagnóstico
Uma forma de auxiliar nesse cenário é através da utilização de testes de diagnóstico, que favorecem à identificação precoce, e consecutivamente ao tratamento das ISTs. Bio-Manguinhos/Fiocruz trabalha no desenvolvimento e oferta de kits de diagnóstico ao Ministério da Saúde, tendo como alvo o diagnóstico de HIV, sífilis, hepatites B e C.
O vice-diretor de Diagnóstico, Antonio Ferreira explica que o diagnóstico precoce dessas doenças é importante para o início do tratamento, bem como para barrar novas infecções. “A partir do momento possível fazer a detecção de ISTs tanto a partir dos testes rápidos e pelo kit NAT Plus, utilizado na hemorrede brasileira para fazer a triagem de bolsas de sangue, sendo sensível para os alvos inclusive na fase da janela imunológica, quando os outros ensaios não conseguem ainda detectar os patógenos na amostra de sangue”, diz.
Texto: Maria Amélia Saad
Imagem: Raquel Portugal e Mauro Campello, Ficoruz Imagens