peq akira gsticEspecialistas da Fiocruz e líderes técnicos em Saúde Pública debateram sobre desafios locais para a fabricação de vacinas e incentivo à vacinação no Brasil e no mundo em uma sessão durante a 6ª Conferência Global de Ciência, Tecnologia e Inovação (G-Stic 2023), no Rio de Janeiro. Durante o evento, os palestrantes discutiram os desafios da produção local, equidade, propriedade intelectual e desenvolvimento sustentável no contexto do acesso a vacinas e vacinação, além de barreiras sociais como resistência à imunização.

O assessor científico sênior de Bio-Manguinhos, Akira Homma, apresentou a palestra principal “Recuperando a cobertura vacinal e os desafios para o ecossistema de vacinas”, que foi moderada pela professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiana Toscano. Ele destacou que vacinas são as formas mais eficazes e baratas de prevenir doenças. Mostrou o crescimento, nos últimos anos, da resistência à vacinação ao redor do mundo.

“Segundo a OMS, mais de 25 milhões de crianças no mundo não estão vacinadas. Muitos esforços estão sendo realizados para recuperar as coberturas vacinais. O Brasil é um país muito grande, nosso calendário vacinal é complexo e informações sobre vacinação não atingem as camadas mais pobres da população. Tudo isso dificulta a imunização dos brasileiros. Por isso, criamos o Projeto de Reconquista das Coberturas Vacinais (PRCV), no qual incentivamos a imunização, primeiramente, na Paraíba e Amapá, locais estrategicamente escolhidos por terem coberturas vacinais muito baixas. Dando bons resultados, essa metodologia será adotada em todo o país”, detalhou.

Agora, a cobertura vacinal está em 100% na Paraíba e 98,93% no Amapá, demonstrando essa experiência exitosa. “A sensibilização da população e as parcerias formadas foram essenciais para alcançar esse resultado. Reforço que a sensação de que estamos protegidos e que não precisamos mais nos vacinar é falsa, essas doenças podem voltar com toda a força a qualquer momento. Não podemos deixar isso acontecer, temos que mobilizar a sociedade em geral, ouvindo os problemas locais. Temos também que informar dados transparentes, para que as pessoas voltem a ter confiança na comunicação da ciência. Só assim conseguiremos reverter essa situação crítica”, concluiu Akira Homma.

A mesa redonda “Vacina para todos - equidade, direitos de propriedade intelectual e desenvolvimento sustentável” discutiu uma situação que ficou mais evidente durante a pandemia de Covid-19. Este período destacou as enormes desigualdades no acesso às vacinas e a lacuna no nível de imunização entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e especialmente nos países menos desenvolvidos. A pandemia também expôs o desequilíbrio no acesso à tecnologia e os termos desiguais relacionados aos acordos de transferência de tecnologia, que às vezes impediam que as vacinas sejam distribuídas para além de mercados delimitados.

A dependência de bens e insumos para a saúde fabricados por alguns países se tornou mais crítico principalmente quando a pandemia começou a impactar a cadeia de suprimentos e restringir o fluxo de mercadorias ao redor do mundo. Todas essas questões apontam para a necessidade urgente de maior investimento nas áreas da ciência e saúde e de uma colaboração internacional, para que o mundo esteja melhor preparado para a próxima grande emergência de saúde. Melhorar a capacidade de fabricação e logística das vacinas e a criar hubs regionais são iniciativas que devem acontecer em todo o globo. Os debatedores destacaram que é preciso focar nas necessidades locais de saúde e criar políticas públicas que garantam a igualdade de acesso à imunização e vacinas, entre elas a harmonização regulatória relacionada a patentes, estímulo à inovação aberta e financiamentos sustentáveis.

Participaram da mesa redonda o assessor das Políticas Farmacêuticas e Inovação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Tomás Pippo; a diretora fundadora do Centro de Tecnologia e Gestão para o Desenvolvimento da Universidade de Oxford, Xiaolan Fu; o chefe de Transferência de Tecnologia da Medicines Patent Pool, Ike James; a diretora-executiva do Médicos Sem Fronteiras Brasil, Renata Reis; o coordenador de Justiça Social e Econômica da OXFAM Brasil, Jefferson Nascimento; a ministra da Saúde da Argentina, Carla Vizzotti; e a chefe executiva do Fundo Pandêmico do Banco Mundial, Priya Basu. O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fiocruz, Rodrigo Correa, representando o presidente em exercício, Mario Moreira. 

 

Jornalista: Gabriella Ponte
Imagem: Raoni Luna

 

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