O início do ano letivo sempre é um período de desafios. Espirro, tosse, nariz escorrendo e sintomas gastrointestinais são comuns nos pequenos logo após as aulas. Isso acontece porque a aglomeração de um grande número de crianças, dentro do mesmo ambiente — seja a sala de aula ou o transporte escolar —, por um longo período, favorece a transmissão de doenças, principalmente as infectocontagiosas.
— O início do período escolar sempre foi caracterizado pelo aumento da circulação das famosas viroses entre as crianças. Elas se caracterizam por vírus que causam patologias respiratórias ou do trato gastrointestinal — explica a médica Juliana Framil, infectologista do Sabará Hospital Infantil.
Esse adoecimento na infância, especialmentente em períodos de maior contato com outras pessoas, é comum, pois as crianças ainda estão com a imunidade em amadurecimento. Além disso, em muitos casos, é o primeiro contato que elas têm com o vírus e, por isso, acabam adoecendo.
Mas, há três anos, os pais têm uma preocupação adicional: a Covid-19. Apesar do risco da infecção pelo novo coronavírus e de outras doenças, especialistas afirmam que não há motivo para não levar a criança para a escola, por exemplo. Em relação aos anos anteriores, a pandemia está mais controlada e, no momento, há baixa circulação do vírus, com queda na curva de novos casos. Além disso, existem vacinas para proteger os pequenos, tanto da Covid-19 quanto das doenças que representam um maior risco para esse público.
A vacinação é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das intervenções de saúde pública com maior impacto na prevenção de doenças infectocontagiosas. A medida é fundamental para ajudar no amadurecimento do sistema imunológico dos pequenos e protegê-los contra doenças graves. No entanto, as coberturas vacinais nunca estiveram tão baixas no Brasil. Desde 2015, os índices vêm caindo sucessivamente, com piora durante a pandemia. Isso aumenta o risco de retorno de doenças erradicadas e controladas, como sarampo e pólio.
Por isso, a principal recomendação para prevenir ou reduzir a gravidade do adoecimento nesse ou em qualquer período é estar com a caderneta de vacinação em dia.
— Infelizmente, não existe só a Covid-19. Temos sarampo, caxumba, catapora, difteria, tétano, coqueluche etc, que são doenças que podem ser prevenidas. Nós temos que valorizar muito a vacinação como um todo, porque é o que você pode fazer para evitar a vulnerabilizar desses alunos — afirma o pediatra Abelardo Bastos Pinto Jr., presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Caderneta atualizada de 15 a 30 dias antes
A vacina contra Covid-19, por exemplo, não impede que a criança seja infectada. Mas reduz substancialmente o risco de casos graves, de sintomas de longo prazo – a famosa Covid longa – e da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P). Até os 9 anos de idade, existem 19 vacinas recomendadas para crianças pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Como o regime de administração varia para cada uma delas, pode ser difícil para os pais avaliarem por conta própria se a vacinação de seu filho está em dia ou não. Por isso, a recomendação é procurar um pediatra ou ir até um posto de saúde.
O ideal, para quem precisa atualizar a carteirinha, é fazer isso com 15 a 30 dias antes início do ano letivo, para dar tempo de o corpo gerar anticorpos. De todas as vacinas recomendadas, apenas três não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Framil ressalta que as vacinas mais importantes para proteger as crianças são oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Mas, para algumas crianças, também pode ser interessante tomar as vacinas adicionais, administradas em clínicas privadas.
— Tem algumas vacinas extras no sistema privado, como a meningite B. O ideal é conversar com o pediatra para entender se elas são indicadas para a criança e em qual momento da vida — diz Framil.
Outras medidas de prevenção
Além da vacinação, existem outras medidas preventivas que podem ser adotadas tanto pelos pais quanto pela própria escola. Elas incluem: higienização das mãos; etiqueta respiratória, que é quando você usa um lencinho descartável ou a parte interna do braço para cobrir o nariz e a boca ao tossir ou espirrar; não compartilhar alimentos nem material escolar ou objetos de uso pessoal; tentar manter os ambientes bem ventilados; higienizar frequentemente o local, inclusive as carteiras dos alunos; e, principalmente, estimular que os pais não levem o aluno doente para a escola.
— Criança doente é em casa e no médico, não na escola. Basta um doente na escola para todos se infectarem — alerta o presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da SBP.
Também é de bom tom que os pais avisem à escola caso o filho esteja doente, em especial se estiver diagnosticado com alguma doença contagiosa. Isso ajuda a alertar pais e educadores para sintomas semelhantes em outros alunos.
Ainda é preciso usar máscara?
Em relação ao uso da máscara, os especialistas acreditam que não é necessário que todas as crianças utilizem máscara em tempo integral na volta às aulas. Por outro lado, a medida pode ser importante para proteger determinados grupos, como crianças imunossuprimidas ou que convivem com pessoas com imunossupressão em casa, ou ainda em locais com grande aglomeração e em circulação de ar, como o transporte escolar.
Além das medidas acima, o médico Bastos Pinto Jr. vai além e recomenda que todas as crianças passem por uma consulta no pediatra antes de voltarem à escola.
— Nessa faixa de idade é que o pediatra vai avaliar peso, estatura, pressão arterial. Ver se a criança está vendo ou ouvindo bem e solicitar exames adicionais. Além das vacinas, que são super importante, é preciso colocar isso tudo em dia porque durante o período de férias, há uma mudança de rotina, de horário de dormir e de acordar, de alimentação, etc. — diz o pediatra.
Essa consulta também é importante para orientar os pais sobre algumas questões práticas, que podem afetar as crianças se não forem consideradas. Como a forma de usar corretamente a mochila. Para aqueles que levam mochila nas costas, a recomendação é que o peso do acessório não ultrapasse 10% do peso da criança, para não forçar a coluna. Além disso, a posição correta é acima da cintura.
Como as férias são um período marcado por muitas alterações na rotina da criança, que vão desde a alimentação e o sono até o tempo de tela e a prática de atividade física, o ideal é tentar colocar a criança na rotina escolar antes do início das aulas em si. Isso envolve retomar uma alimentação balanceada e regular os horários de sono. Essas medidas não só ajudam a garantir uma melhor imunidade como deixar o retorno menos difícil psicológica e emocionalmente para os pequenos.
Fonte: Extra Online
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