Nesta terça-feira (28/6), o Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) divulgou relatório informando que “desde o início da pandemia, a Covid-19 matou duas crianças menores de cinco anos por dia no Brasil”. Além do desfecho mais trágico, a perda confirmada por critério laboratorial de 1.439 crianças nesta faixa etária, o SARS-Cov-2 pode deixar impactos de longo prazo nas crianças acometidas pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à Covid-19.

De acordo com o Boletim Epidemiológico Nº 117 - Boletim COE Coronavírus, publicado pela Secretaria de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (SVS/MS) e que apresenta análise referente à Semana Epidemiológica 23 (compreendida entre os últimos dias 5 e 11), “Disfunções cardíacas são alterações frequentes nos casos de SIM-P. Dos indivíduos notificados que realizaram ecocardiograma e que tiveram o exame registrado no formulário online, 31,6% apresentaram anormalidades coronarianas, 10,9% apresentaram disfunção miocárdica, 11% tiveram sinais de valvulite e 3,4% tiveram pericardite. Outras alterações foram relatadas em menor frequência.”

O Boletim informa ainda que “dados da literatura internacional mostram um predomínio da SIM-P em crianças maiores, na faixa etária de 5 a 13 anos, com mediana de idade de 9 anos”.

Até 11 de junho de 2022 foram notificados 3.026 casos suspeitos da SIM-P em crianças e adolescentes de zero a 19 anos no Brasil, dos quais 1.781 foram confirmados e 252 seguiam em investigação. “Dos casos confirmados, 117 evoluíram para óbito, 1.493 tiveram alta hospitalar e 171 estão com o desfecho em aberto. Apenas 25,5% (454) tinham algum tipo de comorbidade, como doenças neurológicas, cardiopatias, pneumopatias, síndrome genética, hematopatias e obesidade”, relata o Boletim.

SIM-P associada à Covid-19

Em casos raros, crianças e adolescentes podem desenvolver quadro clínico associado a uma resposta inflamatória tardia e exacerbada após a infecção pelo SARS-CoV-2, o vírus causador da Covid-19, caracterizado como SIM-P.

“Na maior parte das ocorrências, é um quadro grave, que requer hospitalização e algumas vezes pode ter desfecho fatal. Dessa forma, a vigilância da SIM-P é necessária por ter relação com a Covid-19 e torna-se importante para avaliar o impacto da infecção pelo SARS-CoV-2 na população pediátrica”, atesta o Ministério da Saúde.

O monitoramento nacional da ocorrência da SIM-P associada à Covid-19 é feito, desde 24 de julho de 2020, através de notificação em formulário padronizado, disponível em redcap.link/simpcovid.

De acordo com a SVS, “a notificação individual da SIM-P deve ser realizada de forma universal, ou seja, por qualquer serviço de saúde ou pela autoridade sanitária local ao identificar indivíduo que apresente sinais e sintomas sugestivos da síndrome, em até 24h. Os casos de SIM-P que ocorreram antes da data de implantação do sistema de vigilância foram notificados de forma retroativa”.

A SIM-P apresenta “amplo espectro clínico”, e os sintomas podem incluir febre persistente, sintomas gastrointestinais, conjuntivite bilateral não purulenta, sinais de inflamação mucocutânea, além de envolvimento cardiovascular frequente.
A partir das informações contidas nos formulários de notificação, a SVS/MS atesta que “além da febre, os sintomas mais comumente relatados foram os gastrointestinais (dor abdominal, diarreia, náuseas ou vômitos) e estavam presentes em cerca de 82,9% (1.476) dos casos”.

Além disto, 1.067 (59,9%) dos pacientes desenvolveram alterações cardíacas, 973 (54,6%) apresentavam manchas vermelhas na pele, 880 (49,4%) apresentaram alterações neurológicas, como cefaleia, irritabilidade e/ou confusão, 685 (38,5%) tiveram conjuntivite e 602 (33,8%) passaram por hipotensão arterial ou choque.

O Boletim atesta ainda que a internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ocorreu em 1.072 (60,2%) casos, e a mediana de internação total foi de 9 dias – a mediana em UTIs ficou em 6 dias.

Óbitos decorrentes da SIM-P e relatados pelo Observa Infância

Dos 117 óbitos confirmados como decorrência da SIM-P, “49 tiveram início dos sintomas em 2020, 50 tiveram início dos sintomas em 2021, e já foram registrados 18 óbitos com data do início dos sintomas em 2022”, atesta o material.
Entre os casos confirmados, 648 (36,4%) notificações ocorreram entre crianças de 1 a 4 anos, 537 (30,2%) na faixa etária de 5 a 9 anos, 339 (19%) de 10 a 14 anos, 207 (11,6%) nos menores de 1 ano e 50 (apenas 2,8%) nos adolescentes de 15 a 19 anos.

Entre os óbitos, a maior parte ocorreu em crianças de 1 a 4 anos (35, 29,9%), 5 a 9 anos (30, 25,6%), 10 a 14 anos (22, 18,8%), menor que 1 ano (21, 18%) e 15 a 19 anos (nove, 7,7%).

Já os números consolidados pelo Observa Infância, iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos, foram coletados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), os quais passaram por revisão do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de Saúde e indicam que 599 crianças nessa faixa etária faleceram pela Covid-19 em 2020 e saltou para 840 em 2021.

Matéria da jornalista Bel Levy divulgando os resultados indica que “ao todo, 1.439 crianças de até 5 anos morreram por Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia no Brasil”, informa o texto de divulgação da pesquisa, que complementa: “entre janeiro e 13 de junho de 2022, o Brasil registrou um total de 291 mortes por Covid-19 entre crianças menores de 5 anos”.

O Observa Infância revela que “a análise dos dois primeiros anos da pandemia no Brasil mostra que crianças de 29 dias a 1 ano de vida são as mais vulneráveis” e sua coordenadora, a pesquisadora Patricia Boccolini, defende que “bebês nessa faixa etária respondem por quase metade dos óbitos registrados entre crianças menores de 5 anos. É preciso celeridade para levar a proteção das vacinas a bebês e crianças, especialmente de 6 meses a 3 anos. A cada dia que passamos sem vacina contra Covid-19 para menores de 5 anos, o Brasil perde duas crianças”.

Ainda de acordo com a divulgação do Observa Infância, “nem todos os países registram os óbitos por Covid-19 com informações por faixa etária. Até junho de 2022, dados coletados pelo Unicef em 91 países mostram que a Covid-19 foi a causa básica de óbito de 5.376 crianças menores de 5 anos no mundo. O Brasil responde por cerca de 1 em cada 5 dessas mortes”.

 

Jornalista: Paulo Schueler, com informações do Observa Infância. Imagem: Naumoid, Freepik.

 

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