Pesquisadores do Projeto CEIS 4.0 – um dos projetos integrados do Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz) - se reuniram nos dias 8 e 9 de abril de 2022, no Rio de Janeiro, para discutir resultados de pesquisa alcançados e perspectivas para geração de uma publicação com contribuições e propostas de políticas públicas voltadas para visão da saúde como espaço de reconstrução da economia nacional.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, integrou a primeira parte do encontro e sublinhou a capacidade de articulação dessa rede de pesquisa com outras redes programáticas, que defendem a agenda de desenvolvimento para o Brasil conectada com uma visão de desenvolvimento global e articulada com o Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Nesse sentido, Nísia destacou o papel dos pesquisadores do CEE-Fiocruz, do Instituto de Economia da UFRJ e da Unicamp como formadores de cultura acadêmica orientada por essa agenda.

Segundo Nísia, em um contexto pandêmico é muito gratificante ver concretizado esse trabalho, fruto de acordo de cooperação técnica assinado em 2019. Nísia chamou atenção, ainda, para o aprendizado gerado nesse processo, cujos resultados podem ser fonte de inspiração para outras reflexões, contemplando, em uma revisão da agenda de desenvolvimento, uma agenda ambiental “como um de seus aspectos centrais”, lembrando que, em 2022, haverá uma série de eventos alusivos à Rio +30, em comemoração aos 30 anos da Conferência Rio 92.

Em sua avaliação, é muito importante “trazer essas contribuições sobre o desenvolvimento sustentável”, mostrando que uma nova perspectiva de desenvolvimento requer um olhar para o chamado gasto social, como essa rede faz. “É possível ter uma agenda inspirada em Celso Furtado e uni-la com a de outros pensadores, voltados à questão ambiental e à tradição da saúde coletiva com Sérgio Arouca”, considerou.

Ao destacar a importância do CEE Nísia disse que tais reflexões representam um grande avanço para a Fiocruz, “que nós precisamos sedimentar mais na própria instituição, dando corpo à nova perspectiva para a saúde, como fator de desenvolvimento econômico”. Tal perspectiva pode ser alargada “para outras áreas ditas de gasto social, sempre vistas pela lógica da austeridade, da redução de gastos e não na lógica do seu potencial criativo, econômico de desenvolvimento”, sugeriu Nísia, citando, como exemplo, a Economia da Cultura,” tão importante do ponto de vista de imagem do país, de economia, de inclusão da juventude”.

Corroborando com a visão sistêmica apontada por Nísia, o coordenadorgeral do Projeto CEIS 4.0, Carlos Gadelha, destacou que “em um momento no qual se anuncia a conformação de uma nova geração de políticas públicas, a proposta é dar uma contribuição para, a partir da saúde, construir-se uma nova visão, que integre as dimensões econômica, social e ambiental, em uma relação endógena, a saúde como espaço de reconstrução da economia nacional”. Gadelha aponta a importância de a Fiocruz, uma instituição da área social, científica e de produção, ser protagonista de proposições para um projeto de desenvolvimento econômico para o Brasil, com a saúde como oportunidade de geração de bem-estar e desenvolvimento sustentável.

A pesquisadora Esther Dweck, do Instituto de Economia da UFRJ e RedeSist, sublinhou que a Fiocruz, devido à sua atuação nos últimos anos, tornou-se o ponto central de disputas de um país diferente. “Poder participar e fazer parte de um trabalho com tanto fundamento vai ser importante para contribuir rumo a um projeto de país mais inclusivo, que integre as questões social, ambiental e econômica e que funcione para todos”, explicou.

Já o pesquisador Denis Maracci Gimenez, do Instituto de Economia da Unicamp, destacou o trabalho coletivo realizado pela rede de pesquisadores do Projeto CEIS 4.0, que em sua avaliação, diferente daquele desenvolvido em outras redes de pesquisa, caracterizadas pelo somatório de trajetórias individuais, atua em torno de um tema radicalmente de interesse nacional. Para Denis, em um ano decisivo para o país (como o de 2022) certamente esta característica será importante. “Temos condições de ajudar no debate, de forma qualificada, com o peso das instituições, com o trabalho de cada um integrado nesse esforço”, afirmou.

Os dois dias de debate foram organizados em torno de quatro temas:

. Dinâmica macroeconômica do CEIS 4.0;

. Dinâmica no mercado de trabalho no CEIS 4.0;

. Estado e Território em uma perspectiva ampliada de saúde e desenvolvimento;

. A dinâmica da Ciência, Tecnologia, Inovação e Produção no CEIS 4.0.

“Nosso projeto converge Celso Furtado e Sergio Arouca”, definiu o coordenador do CEE, reforçando o vínculo do grupo com os dois pensadores, assim como com Karl Marx, Joseph Schumpeter e John Keynes. “É uma mudança estrutural econômica e, ao mesmo tempo, uma visão de saúde pública que deu origem ao Sistema Único de Saúde. Sergio Arouca liderou a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que lançou as bases do SUS e mudou a Constituição brasileira”, lembrou. “O país que teve a ousadia de criar o maior sistema universal do mundo, em termos de população atendida, não pode deixar de ser ousado”, considerou Gadelha, convidando a reforçar a importância dos grandes clássicos, com uma releitura, em um novo contexto.

O coordenador destacou também a perspectiva de o projeto de pesquisa reunir Economia Política e Saúde Coletiva. Ao analisar palavra a palavra a expressão Complexo Econômico-Industrial da Saúde, Gadelha comenta: “Complexo, como parte essencial da matriz produtiva brasileira, sua importância estrutural, na reconstrução da economia nacional”, explicou. “Quanto a Econômico, trata-se do entendimento de que a saúde é um espaço econômico decisivo”, prosseguiu. “A dimensão Industrial não se refere à indústria apenas, e sim a uma lógica industrial invadindo todas as áreas – a própria indústria, os serviços, a agricultura”. Em relação à Saúde, considerou, deve ser tomada como uma “aterrissagem dessa perspectiva, um campo específico de bem-estar”, avançando-se no “significado profundo dos sistemas universais, que permitem repensar as próprias condições de cidadania”.

A esse respeito, ele deu como exemplo o fato de os dirigentes de países como Inglaterra e da Suíça serem usuários dos respectivos sistemas públicos de saúde. “Isso faz uma diferença. Não são sistemas para pobres, não são sistemas compensatórios apenas. É ter a universalidade como modelo de sociedade, como quando olhamos para a fila única da vacina, que reúne pessoas de distintas rendas, raças, gêneros, territórios. Ou a vacina é para todos ou não é para ninguém. É uma visão mais integrada, mais cooperativa, menos estratificada”.

 

Fonte: Andréa Vilhena e Eliane Bardanachvili. Imagem: Ipopba, Freepik.

 

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