O 6th International Symposium on Immunobiologicals (ISI), que acontecerá dos dias 3 a 5 de maio, já começou suas atividades, numa espécie de pré-aquecimento. No último dia 7, abrindo o ISI Webinar Series, foi realizado o webinar "Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais”, mesmo nome dado ao projeto que Bio-Manguinhos está conduzindo em parceria com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS).

Com a presença de diversos especialistas, o evento on-line discutiu a queda das coberturas vacinais, apontando os problemas decorrentes, como impactam nos indicadores e soluções para reversão do cenário. Akira Homma, coordenador do Comitê Científico e Tecnológico do ISI e assessor científico sênior de Bio-Manguinhos, abriu o debate exaltando a vacinação como uma das formas mais importantes de prevenção de doenças, sendo um bem à saúde pública, e chamando atenção para a queda das coberturas vacinais nos últimos cinco anos, problema este agravado pela pandemia.

“Este quadro está criando uma enorme população suscetível a doenças imunopreveníveis, pelas pessoas não estarem se vacinando. Com a queda das coberturas, podemos ter a volta de doenças que estavam próximas de serem erradicadas, como a pólio”, afirmou.

O evento foi dividido em quatro fóruns: "Os desafios da vacinação", "Tecnologia da informação e vacinação", "Comunicação e educação: os aliados da vacinação" e um de encerramento. No primeiro painel, Rui Moreira Braz, da Secretaria de Vigilância em Saúde, em substituição à coordenadora do PNI, Samara Furtado, admitiu a queda na cobertura vacinal e afirmou que alguns desafios precisam ser superados para a reversão do quadro. “É preciso termos capacitação continuada dos profissionais de saúde, ampliação dos horários das salas de vacinação, caderneta eletrônica de vacinação, sistemas que orientem os gestores em relação a dados que permitam fazer ações específicas em municípios que apresentam baixa cobertura, dentre outros fatores. É um conjunto de medidas que precisa ser ajustado”.

Lely Stella Guzmán, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), apresentou “O cenário da vacinação no mundo”, alertando para as baixas coberturas nas Américas de doenças como pólio 3 (cerca de 80%), sarampo (85%) e rubéola (85%). “Estamos vendo alguns países até então livres da pólio, como Israel e Ucrânia, com a presença de poliovírus circulante. É preciso uma investigação aprofundada para frearmos um eventual aumento de casos”.

O quadro apresentado pela coordenadora de Imunizações do Amazonas, Izabel Nascimento, na palestra “A ponta do Sistema de Vacinação”, não é animador, principalmente considerando a realidade do maior estado do país. “A maioria dos municípios amazonenses tem acesso fluvial, muitos com população rural maior do que a urbana, o que gera uma grande dificuldade de chegar até esses moradores. Isso implica em altos custos de locomoção para municípios com poder aquisitivo muito baixo. Ainda há outras dificuldades como falta de mão de obra qualificada, infraestrutura deficiente, desconfiança quanto à eficácia da vacina...”, enumerou.

Um sistema que oriente os gestores municipais em ações de vacinação é uma necessidade colocada pelos especialistas. O coordenador geral de Sistemas de Informação e Operações do Datasus, Frank Pires, falou que a tarefa não é fácil, mas que estão trabalhando em uma solução. “Temos um grande desafio na coleta de informação sobre a vacinação até ser de fato disponibilizada ao gestor. Temos diversos canais de entrada de dados e isso traz problemas, como falta de padronização e pulverização das informações. Mas estamos trabalhando em uma proposta que otimizará o acesso a dados confiáveis, dando agilidade e subsídios ao gestor em suas ações”.

A comunicação também foi colocada como uma importante aliada para as coberturas vacinais retornarem a patamares elevados. “Enquanto profissionais de comunicação e de instituições científicas, precisamos fazer a informação confiável chegar até as pessoas das mais variadas formas, seja por vídeo, matérias, infográficos. O celular, por exemplo, deve ser usado como um meio para aumentarmos a cobertura vacinal e combater as fakenews”, disse Sidcley Lyra, divulgador científico que trabalha na COC/Fiocruz.

Tão claro quanto os baixos níveis de vacinação da população, principalmente em relação a doenças imunopreveníveis, ficou também, pelo que foi apresentado no webinar, os (muitos) desafios para reverter tal panorama, sendo necessária uma rede de colaboração envolvendo diversas instituições. É com esse objetivo que foi criado o projeto de Bio-Manguinhos “Reconquista das Altas Coberturas Vacinais”, que iniciou seu trabalho por municípios do Amapá e Paraíba.

 

Jornalista: Rodrigo Pereira. Imagem: Freepik.

 

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