materia 5 estudo clinico diego destro internaTodo medicamento, antes de chegar até a população, passa por várias etapas de pesquisa, desde as realizadas dentro dos laboratórios, pesquisas com animais até chegarem nos estudos em seres humanos e assim, finalmente, serem aprovadas para uso na população. O grande objetivo de realizar pesquisas com os seres humanos é garantir que aquele produto que está sendo testado, apresente eficácia e segurança, e forneça alguma melhoria para doenças, além de preveni-las.  Por isso a pesquisa clínica  é tão importante para garantir o pleno atendimento da população pelo SUS, seja no fornecimento de um medicamento para tratamento ou até mesmo uma criança saudável que precisa ser vacinada.

Os pacientes que desejam participar de um estudo clínico devem receber todas as informações sobre a pesquisa a ser realizada e autorizar sua participação de forma livre e voluntária, podendo também se retirar da pesquisa a qualquer momento, sem qualquer prejuízo no seu atendimento de rotina, por exemplo. O paciente se torna um “participante de pesquisa” e todas as informações coletadas são tratadas de forma confidencial.

A pesquisa clínica é importante pois através dela é possível fornecer outras opções de tratamento para os pacientes. Além disso, os estudos clínicos devem seguir as Boas Práticas Clínicas (BPC) para garantir os direitos, a segurança e o bem-estar dos pacientes durante toda a execução da pesquisa. 

Os estudos clínicos de Bio-Manguinhos são realizados com ética e qualidade pela Assessoria Clínica (Asclin), que é composta por uma equipe multidisciplinar. A coordenadora Maria de Lourdes de Sousa Maia ressalta que tanto o Instituto como o SUS se fortalecem a cada estudo clínico concluído. “Os estudos clínicos, em sua maioria, são solicitados pelo Ministério da Saúde, e antes de sua execução passam por uma avaliação da diretoria do Instituto. Com a ação da Farmacovigilancia e Tecnovigilância também executamos o acompanhamento e monitoramento de nossos produtos, visando manter sua segurança e credibilidade.”

 

Estudando úlceras nos pés de pacientes diabéticos

Bio-Manguinhos está conduzindo o estudo “Avaliação da eficácia e segurança do Fator de Crescimento Epidérmico Humano Recombinante (FCEhr) intralesional em participantes com úlcera de pé diabético no Brasil. Estudo multicêntrico, randomizado, duplo cego e controlado com placebo (Heberprot)”.

No Brasil existe uma incidência crescente de Diabetes mellitus (DM), que coloca o país entre os quatro primeiros em relação à prevalência de DM em nível mundial. As úlceras nos pés de pacientes diabéticos (UPD), que configuram a síndrome do pé diabético, são complicações frequentes do DM e estima-se que 15 a 25% das pessoas com esta patologia apresentarão algum problema nos pés ao longo de suas vidas. O Ministério da Saúde estima de que 14.211 amputações foram realizadas entre 2008 e 2013 em pessoas com DM1 e DM2 (comunicação pessoal Coordenação de Pessoas com Doenças Crônicas Não-Transmissíveis). Um dos principais ganhos deste estudo é evitar as amputações desses pacientes e melhorar sua qualidade de vida.

Atualmente, há um produto aprovado em Cuba e em outros 20 países, o FCEhr, aplicado no tratamento de UPD neuropática e isquêmica. Este produto tem como ação melhorar um dos elementos fisiopatológicos mais importantes deste tipo de lesão que é a carência deste fator nas células que participam da reparação no leito da lesão. FCEhr já foi utilizado com resultados satisfatórios em mais de 140.000 participantes nos países que possuem o registro deste medicamento.

Mediante a transferência de tecnologia do FCEhr pelo Centro de Ingeniería Genética y Biotecnológica (CIGB) e Bio-Manguinhos, e visando o registro do produto no Brasil, foi solicitado aos produtores a condução de ensaio clínico de fase III, multicêntrico, randomizado, balanceado e controlado com placebo, para melhor embasamento de eficácia e segurança do produto FCEhr. Assim, o presente estudo constitui um requerimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para prosseguimento com registro do produto no Brasil.

Maria de Lourdes conta os desafios que a equipe enfrentou durante a pandemia. “Por se tratar de pacientes com muitas comorbidades, houve neste período, uma redução na inclusão dos participantes e algumas resistências em retornar para os acompanhamentos subsequentes. Além disso, alguns hospitais e centros no início da pandemia ficaram focados 100% no atendimento à pacientes de COVID. Porém, as equipes atuaram de forma organizada e segura, garantindo os retornos”. A etapa de inclusão dos participantes finalizou em dezembro de 2021 e agora a fase é de acompanhamento dos incluídos com as visitas de extensão, tendo um prazo de término previsto para dezembro de 2022.
 

Duração da imunidade da vacina tríplice viral

O “Estudo de duração da imunidade oito anos após a vacinação de crianças de 12 a 23 meses com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)” buscou explicar a causa da suscetibilidade ao vírus do sarampo mesmo após a administração de 2 doses de vacina tríplice viral, baseando-se não somente na constatação de baixas coberturas vacinais. “Na recente epidemia de sarampo que ocorre no Brasil desde 2018, verificamos a predominância do genótipo D8, com linhagens diversas. A detecção destas linhagens é um marcador molecular importante para definir diferentes introduções do mesmo genótipo, na mesma área geográfica, possibilitando um melhor conhecimento e discussão das estratégias de controle utilizadas”, explicou Maria de Lourdes.

Algumas notícias circularam na imprensa sobre uma possível falha da vacina em proteger a população vacinada frente a este genótipo D8. Portanto, tornou-se necessário avaliar a duração da imunidade da vacina tríplice viral não só para o sarampo, mas também para caxumba e rubéola, após 8 anos após o estudo clínico realizado em 2012, quando 240 lactentes de 12 a 23 meses foram vacinados com 1 dose da vacina tríplice viral de Bio-Manguinhos. Os que não soroconverteram naquela época, receberam mais 1 dose da vacina tríplice viral, e todos os responsáveis pelas crianças receberam a orientação de manter atualizada a vacina do calendário de imunizações recomendado pelo PNI, naquela ocasião, que era fazer mais uma dose da vacina tríplice viral aos 4 anos de idade.

Este estudo ocorreu em nosso Centro Coordenador de Pesquisa Clínica Heitor Beltrão, na Tijuca, CMS Milton Fontes Magarão, no Engenho de Dentro e CMS Waldyr Franco, em Bangu. Atualmente o projeto está em fase de análise de dados e preparação do relatório final. Durante a pandemia, a equipe teve o desafio de garantir a adesão dos participantes. Foram realizadas coletas em domicílio, garantindo a segurança dos participantes, evitando deslocamento em transporte público e exposição ao coronavírus.
 

Taxas de ataque secundário de sarampo

Também está em andamento o estudo “Taxas de ataque secundário de sarampo segundo situação vacinal em contatos de casos confirmados”. Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva, em que os contatos de casos de sarampo confirmados serão categorizados segundo seus antecedentes de vacinação (anteriores à ocorrência do caso índice) e a taxa de ataque secundário será comparada nos vacinados e nos não vacinados. O estudo concluiu a fase de captação de participantes em 28/2/22 nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e Curitiba e no estado de Amapá, regiões onde ocorreram um grande número de casos de sarampo nos últimos meses. Neste momento estamos  em fase de análise de dados e preparação do relatório final. Importante salientar que durante a pandemia as equipes enfrentaram diversos desafios, como a dificuldade de acesso aos contactantes dos casos confirmados.  

Os resultados esperados do estudo irão prover subsídios para o Ministério da Saúde, adotar ajustes nas estratégias de vacinação e/ou calendário de vacinação.  Desta forma, esperamos estar contribuindo para a redução do número de casos da doença, a recertificação de eliminação do sarampo nas Américas, e aumentar a credibilidade na vacinação e no Programa Nacional de Imunizações.

Jornalista: Gabriella Ponte
Imagem: Diego Destro

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