Entre os dias 9 e 11 de setembro a Sociedade Brasileira de Imunizações- SBIm realizou a sua XXIII Jornada Nacional de Imunizações, maior evento do mundo sobre o tema. Com o slogan “VacinAção pela Vida”, o encontro reuniu cerca de 1.500 inscritos para acompanhar mais de 150 palestras com especialistas brasileiros e estrangeiros sobre o cenário da imunização ao redor do mundo. Bio-Manguinhos também esteve presente no evento, como apoiador e com a participação de nossos colaboradores.

Pelo segundo ano consecutivo, em função da pandemia, a Jornada foi realizada de forma online. Além das salas virtuais com os painéis sobre estudos, pesquisas e orientações mais recentes sobre vacinas em todo o mundo, a plataforma também apresentou uma clínica modelo, com o objetivo de apresentar a estrutura física recomendada para o serviço de vacinação humana, informar sobre os cuidados legais necessários e apresentar recomendações para as boas práticas da atividade.

A Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos (Asclin) marcou presença no segundo dia do evento. A área foi representada pela Dra. Tatiana Noronha, que falou sobre o esquema vacinal de febre amarela na mesa "Novas Possíveis Recomendações", que também contou com a presença das doutoras Luiza Helena Falleiros, da Universidade Metropolitana de São Paulo, que falou sobre a vacina de poliomielite, e Silvia Helena Viesti, vice-presidente da SBIm Regional São Paulo, que abordou a tríplice viral.

Em sua apresentação, Luiza Helena deu um panorama sobre a situação da poliomielite no mundo desde os anos 1980, passando pelo certificado de erradicação da doença as Américas e o surgimento de cepas selvagens e derivadas da vacina nos anos 2000. Com base nesse cenário ela justificou a recomendação de que a vacina oral para poliomielite (VOP) seja substituída pela vacina inativada (VIP) no calendário vacinal oficial. "Campanhas de multivacinação são muito importantes, mas, no caso da polio, é preciso focar ainda no aumento da cobertura vacinal com VIP, que é a única que tem os três sorotipos", defendeu.

Silvia Helena abordou a adoção ou não de uma terceira dose de tríplice viral no esquema vacinal oferecido pelo Programa Nacional de Imunizações - PNI. A pediatra apresentou estudos transversais de vigilância de soroprevalência que demonstraram que não há um ganho significativo de imunidade com a administração de uma terceira dose e reforçou a leitura de que não há evidências que justifiquem a implantação de uma terceira dose como rotina vacinal. "Idealmente, todos devem ser imunizados com duas doses e a terceira dose deve ser utilizada para controle de surtos", concluiu.

Já a infectologista da Asclin, Tatiana Noronha, apresentou as características e as indicações de esquemas vacinais do imunizante de febre amarela, passando pela expansão dos casos da doença no Brasil até a emergência de saúde pública em 2017, que obrigou o PNI a expandir as áreas de recomendação de vacinação e rever o esquema vacinal para o imunizante, adotando a dose única para todos os grupos etários como forma de combater a então epidemia. Ela também apresentou estudo conduzido pelo Grupo Colaborativo de Estudos para a Vacina de Febre Amarela, do qual faz parte, e que demonstrou a duração da imunidade contra febre amarela em crianças vacinadas entre os 9 e os 23 meses de idade.

"Observamos que, ao longo do tempo, há um declínio na quantidade de anticorpos contra a febre amarela em crianças que receberam a primeira dose até os dois anos de idade, o que demonstra a necessidade de um regime de reforço para garantir a memória imunológica. O mesmo acontece com adultos vacinados com uma ou até mesmo duas doses: percebemos uma queda nesta imunidade entre cinco a nove anos após a imunização. No geral, os dados apoiam a recomendação de uma dose de reforço 10 anos após a primeira vacinação para indivíduos que vivam em áreas de risco de contágio", explicou. Neste sentido e para contribuir com a ciência, a Asclin, vem desde 2016, realizando um estudo, em municípios da Paraíba, que visa acompanhar a imunogenicidade dos vacinados por 10 anos.

Homenagem a Akira Homma no último dia

O último dia do evento contou ainda com uma homenagem a Akira Homma, assessor científico sênior de Bio-Manguinhos. Com um extenso currículo e uma vida inteira dedicada à causa da imunizações, o nome de Akira foi aprovado por unanimidade pela diretoria da SBIm para receber a homenagem enquanto patrimônio humano da ciência brasileira.

Juarez Cunha e Isabella Ballalai, presidente e vice-presidente da SBIm, nesta ordem, exaltaram toda a contribuição do pesquisador no campo das imunizações e o caráter colaborativo de Akira, sempre disposto a ouvir e ajudar os colegas de profissão.

“Uma generosidade absoluta esse título. Patrimônio humano da ciência somos todos nós. Todos somos responsáveis pelo resultado positivo que estamos alcançando com vacinas e vacinações", agradeceu Akira, que ainda destacou a importância do apoio governamental para o incentivo ao desenvolvimento e produção de vacinas de forma cada vez mais rápida para a população. "Temos uma ciência super avançada. Quando há decisão política é possível transformá-la em vacina em menos de um ano, como foi o caso da COVID-19", salientou.

Vacinas COVID-19 em destaque

As vacinas COVID-19 foram destaque em diversas mesas da XXIII Jornada Nacional de Imunizações, promovida pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Colaboradores de Bio-Manguinhos marcaram presença nos debates, com palestras tratando dos desafios superados pelo Instituto no processo de transferência de tecnologia e produção da vacina COVID-19 (recombinante).

No primeiro dia da jornada, a gerente do Programa de Vacinas Virais de Bio-Manguinhos, Elena Caride, participou da mesa “A ciência e a pandemia” e ministrou a palestra “O que aprendemos com o desenvolvimento acelerado das vacinas COVID-19”. Ela explicou que, desde o início da pandemia, Bio-Manguinhos possui um Grupo de Prospecção em busca de dados científicos sobre a doença e projetos de vacinas de COVID-19 pelo mundo. Foi dessa forma que se chegou à Oxford / AstraZeneca para que se fechasse uma parceria de transferência de tecnologia.

Ela destacou também a cooperação entre organizações governamentais e empresas privadas, primordial para a viabilização dos imunizantes. “Os estudos clínicos, cujas fases aconteciam uma após a outra, tiveram suas fases acontecendo em paralelo e isso acelerou o desenvolvimento e aprovação das vacinas”, disse a pesquisadora.

No segundo dia, o evento contou com um painel organizado pela Asclin, com o tema “Desafios para uma vacinação contra Covid-19” com objetivo de levar ao público informações sobre a vacina desde sua produção até a sala de vacina. Essa já é a 10ª edição em que a Asclin, com a participação de colaboradores de Bio e convidados de outras instituições, colabora com a programação do evento.

O painel contou com a participação do coordenador do projeto BioCovid, Fabio Henrique Gonçalez, que ministrou a palestra “Produção de vacina COVID-19 - Desafios no estabelecimento da produção do IFA”. Ele apresentou o passo a passo do processo de viabilização da vacina COVID-19 (recombinante), com destaque para a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) nacional, pontuando a necessidade de absorção tecnológica em tempo recorde.

“Em relação à urgência de disponibilização do produto, nós não tínhamos tempo para seguir em uma transferência de tecnologia usual. Normalmente, o processo é dividido em fases, mas por conta da necessidade e pela baixa disponibilização de doses e de produtos registrados, precisávamos garantir uma implementação muito rápida, seguindo todos os parâmetros de qualidade. Esse foi o principal norteador da estrutura que foi criada para o projeto”, explicou.

Fábio Gonçalez ressaltou que a produção da vacina nacional já iniciou, com quatro lotes já em fabricação, sendo dois de pré-validação e dois de validação. A previsão é de que as primeiras doses sejam entregues no último trimestre do ano. "Foi um processo muito desafiador, realizado em tempo recorde, e, após um ano de muito trabalho conseguimos alcançar números extremamente satisfatórios”, avaliou.

A mesma mesa contou também com a participação de Gustavo Mendes Lima Santos, gerente geral de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que falou sobre o trâmite de concessão de registro para vacinas e medicamento durante a pandemia e Maria Izabel Nascimento, coordenadora do programa de imunizações do estado do Amazonas, que falou sobre a Estratégia de vacinação em tempos de pandemia, compartilhando um pouco da sua experiência.

O painel teve a mediação da coordenadora da Assessoria Clínica (Asclin) de Bio-Manguinhos, Maria de Lourdes Maia. A médica também esteve à frente de uma segunda mesa de debate, no terceiro dia do evento, que tratou dos estudos sobre os esquemas heterólogos de vacinação, a concomitância entre imunizantes e a necessidade da dose de reforço.

Também no último dia, a médica da Asclin, Patrícia Mouta, participou do painel que abordou a questão da Farmacovigilância das vacinas COVID-19. Em sua palestra, a médica trouxe um panorama das principais iniciativas internacionais a respeito do acompanhamento pós-vacinação, e explicou a importância desse monitoramento para trazer segurança para a população a respeito do imunizante.

“A Farmacovigilância, que é a vigilância dos eventos adversos no momento em que os produtos, no caso a vacina COVID-19, já chegaram no mercado, é fundamental porque permite que a gente identifique os eventos adversos muito raros, que na maioria das vezes os ensaios clínicos pré-registro não têm o poder estatístico de identificar. A Farmacovigilância, que não é exclusiva da vacina COVID-19 e existe para qualquer medicamento, faz esse monitoramento no mundo real, onde a gente tem muitas pessoas recebendo esse produto ao mesmo tempo e sem o rigor de um ensaio clínico“, explicou.

A vacina COVID-19 (recombinante) também foi tema de um painel com a apresentação de Sue Ann Costa Clemens, coordenadora dos estudos clínicos do imunizante no Brasil.

 

Jornalistas: Fernanda Alves, Gabriella Ponte e Thais Christ. Imagem: Bernardo Portella. 

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