O longo relacionamento entre a Fiocruz e o Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais da Organização Mundial da Saúde (TDR/OMS) ganhou um caráter mais formal com a assinatura do memorando de entendimento (MoU) no último dia 11/8. O documento, que estabelece os termos da cooperação técnica para o enfrentamento das doenças tropicais e negligenciadas, foi firmado durante um encontro virtual entre a presidente Nísia Trindade Lima e John Reeder, diretor do TDR. O evento comemorou ainda a eleição da Fundação para o Conselho de Coordenação Conjunto do programa em junho passado.

No encontro, a estreita parceria com o TDR foi lembrada, com menções a integrantes que passaram pelo programa, como Carlos Morel — coordenador-geral do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) e que foi diretor do programa de 1998 a 2003 — e Rodrigo Correa, vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fundação e ex-membro do Conselho Coordenador Conjunto de 2001 a 2006.

A relação entre doenças negligenciadas e desigualdades sociais foi destacada. "Por isso, na Fiocruz, cada vez mais falamos de populações negligenciadas do que de doenças negligenciadas”, disse Nísia. Isso enquanto Reeder recitou um de seus "mantras”: “não há pesquisa sem haver desenvolvimento, e não há desenvolvimento sem haver pesquisa”.

Plano de cinco anos

Criado em 1975, o Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais apoia esforços para combater as doenças relacionadas à pobreza. A Fiocruz tem uma longa história de trabalho conjunto com o TDR por meio de seus Centros Colaboradores da OMS: em Saúde Global e Cooperação Sul-Sul; em Saúde Pública e Ambiental; em Leptospirose; em Política de Medicamentos e Formação de Técnicos em Saúde, além de outras atividades.

Pesquisadora do CDTS/Fiocruz, Claudia Chamas destacou os principais pontos do plano de trabalho estabelecido pelo MoU para os próximos cinco anos. Entre eles está a adaptação para português do Implementation Research Tollkit (uma padronização de processos para que resultados sejam comparados entre países) e do Massive Open Online Courses (cursos abertos na Internet). Está prevista também a organização de uma rede TDR, Fiocruz e ministérios da Saúde de países de Língua Portuguesa; a colaboração em pesquisa sobre picadas de cobra; e a promoção da cooperação técnica na América Latina com foco na iniciativa Essence on Health Research. “Essa é uma grande vitória institucional que permitirá à Fundação ampliar o diálogo na busca de soluções científicas e de saúde para as doenças negligenciadas e populações", disse.

Garry Aslanyan, gerente de parcerias e governança no TDR, lembrou que esse memorando é fruto de uma relação "que tem se solidificado ao longo dos anos". "Muitos da Fiocruz já trabalham ou colaboram com o TDR. Vamos usar essa conexão já estabelecida no processo”, ressaltou.

Paulo Buss, coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), por sua vez, lembrou que a Fundação agrega importantes ativos nessa parceria. Um deles é a Rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, cuja secretaria técnica está na Fiocruz. Somam-se a ela a Rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública da América Latina e Caribe e a Rede Ibero-Americana de Institutos Nacionais de Saúde Pública, incluindo Portugal e Espanha.

A assessora especial do Ministério da Saúde para Assuntos Internacionais, Cristina Alexandre, relacionou o combate às doenças negligenciadas à Agenda 2030, com a necessidade de promover a saúde e o bem-estar, “sem deixar ninguém para trás”. “Sabemos que essa ação de cooperação é importante. Sobre a CPLP, estaremos juntos como parte da assessoria internacional", afirmou.

Ciência sob holofotes

Para Reeder, a assinatura do MoU vai dar “um novo impulso” à relação. “O trabalho que realizaremos nos próximos anos realmente fará diferença”, disse. Ele defendeu a necessidade da pesquisa de implementação (o estudo sistemático de métodos que apoiam a aplicação de resultados de pesquisas e outros conhecimentos) e destacou os obstáculos no caminho para alcançar uma cobertura universal de saúde e implementar ações “que sabemos que podem funcionar, mas não funcionam”.

O diretor do TDR ressaltou a necessidade de fortalecer a capacidade de pesquisa, de treinamento e também de engajamento global. “O aprendizado sólido e a construção de capacidades nos países é a melhor garantia de que serão capazes de responder [às emergências] que surgirem amanhã”, disse. E lembrou que, com a pandemia de Covid-19, a ciência se encontra sob os holofotes. “Quando no passado o cientista chefe do governo britânico apareceu na primeira página dos jornais? As pessoas estão prestando atenção nos dados e na ciência. Não podemos deixar isso se perder”, pontuou.

Para Nísia, a assinatura do memorando vai ao encontro do tripé em que a Fiocruz se baseia: ciência, saúde e educação. Ela acredita que as ações em pesquisa e educação com o campus virtual devem ser ampliadas com a parceria, e ressaltou a sua importância para os novos pesquisadores. “O aprendizado em pesquisa não se esgota nos nossos cursos de formação”.

Nísia destacou o equilíbrio na colaboração com o TDR, em que os dois lados saem ganhando. “Esses dois fatos [a escolha para o conselho e o memorando] trazem responsabilidade, mas, sobretudo, criam condições para uma visão mais integradora e global de nossos campos de atuação, levando em conta as necessidades das populações negligenciadas”, disse. "Este evento significa o encontro entre a boa tradição da ciência, da saúde e do engajamento das populações nesse processo”.

 

Fonte: Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias/AFN)

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