Entre os dias 7 e 25 de junho a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu sua Conferência Global sobre Comunicação da Ciência durante Emergências de Saúde para responder questões como: de que forma comunicar incertezas científicas? O uso do humor, dos games e das artes podem ajudar a tornar o debate científico mais compreensível? Como comunicar os processos científicos com mais transparência?

Virtual, sob a pandemia COVID-19, o evento foi trespassado pela ideia de que todos se tornaram comunicadores científicos, seja no ambiente trabalho, às mesas das refeições familiares e nas redes sociais.

“A conferência reuniu comunicadores científicos profissionais de uma ampla gama de áreas do conhecimento para identificar os desafios descobertos e enfrentados durante a pandemia e encontrar soluções para tornar a ciência mais acessível e com sua relevância reconhecida por todos”, afirma a Organização em comunicado sobre o evento.

A abertura, que contou com cinco palestrantes, abordou tópicos tão abrangentes como a veiculação das incertezas cientificas e o uso de dados e estatísticas para explicar conceitos às populações, o uso das mídias sociais na promoção de atitudes seguras durante emergências de saúde pública e os benefícios da colaboração interdisciplinar para traduzir mensagens científicas em produtos audiovisuais facilmente compreensíveis.

Com mais de 3.000 participantes de 159 países, que enviaram cerca de 500 perguntas aos palestrantes, a mesa de abertura contou com as seguintes palestras:

O jornalismo científico é necessário no presente, da subdiretora Geral de Ciências Naturais da Unesco, Shamila Nair-Bedouelle

Comunicação de ciência e risco durante uma pandemia, do professor de Comunicação em Saúde da Escola de Saúde Pública de Harvard K. “Vish” Viswanath

Desmistificando a ciência por trás da pandemia de COVID-19, da microbiologista e comunicadora científica Siouxsie Wiles

Comunicação de evidências confiáveis e úteis, do professor da Universidade de Cambridge Andrew Freeman

Quando a rede social norteia o discurso público, do pesquisador brasileiro Atila Iamarino

Lições aprendidas

Entre 8 e 24 de junho ocorreram as palestras temáticas, fechadas aos participantes e dirigidas a integrantes dos segmentos de pesquisa básica e aplicada, mídia e política, visando facilitar a troca de experiências e a construção e capacitação de uma comunidade multidisciplinar de comunicadores científicos.

Os participantes identificaram alguns passos necessários para uma comunicação da ciência em saúde de forma eficaz: remodelar os processos científicos existentes para garantir que as pesquisas sejam compartilhadas em tempo hábil durante as crises de saúde, sem deixar de lado o controle da qualidade do que se produz em pesquisa, a promoção do debate e a avaliação por pares.

Entre os participantes, foi majoritário o posicionamento de que isto inclui a necessidade de ser transparente com o público sobre os processos científicos, já que as populações precisam entender o que a ciência pode e também o que ela não pode fazer.

“Embora o público frequentemente espere que a ciência forneça respostas claras, a geração de conhecimento científico leva tempo, é construída através do debate e, de fato, está inerentemente ligada à incerteza. A comunicação aberta desta incerteza impedirá que as pessoas percam a confiança na ciência quando as evidências em constante evolução levarem a mudanças nas recomendações de saúde pública”, posicionou-se a OMS sobre o tema.

Outro ponto consensual foi a necessidade de levar em consideração as preocupações, crenças e necessidades dos públicos-alvo. A participação de representantes de 159 países colaborou para esta conclusão, dada a diversidade das culturas e realidades dos próprios profissionais envolvidos no evento. “Não existe uma solução única para todos” foi o mote.

“Ao invés de adotar uma postura professoral de ‘divulgar’ informações gerais, a pandemia da COVID-19 deixou cristalina a necessidade de construir um diálogo constante com as comunidades, a fim de garantir que as informações científicas estão sendo compreendidas, aumentando sua relevância e estabelecendo laços de confiança com as populações”, vaticinou a OMS.

Por fim, a avaliação de que é preciso inovar e ser criativo para que exista uma “tradução” eficaz das mensagens científicas pela sociedade. “As pessoas consomem informações em diferentes canais, em diferentes horários do dia e em diferentes formatos. A comunicação científica deve contribuir para a vida das pessoas de uma maneira significativa e orientada para a ação. Encontrá-los onde eles estão em termos de preferências, valores e crenças é um imperativo”, recomenda a Organização Mundial da Saúde.

Combate à infodemia

A sessão de encerramento, novamente aberta ao público, defendeu o potencial do uso das redes sociais e da técnica de narração de histórias para mitigar a infodemia, termo criado em 2020 para designar a “pandemia de desinformação”, como a explosão de fake News e discursos negacionistas.

O encerramento também apresentou três conceitos inovadores de comunicação científica, através do uso de ilustrações, de livros infantis e do formato de Perguntas & Respostas como ferramentas para atingir diversos públicos-alvo. Os três exemplos foram selecionados após um concurso global da OMS sobre cases de boas práticas lançado em abril de 2021.

Um painel de especialistas relatou os debates ocorridos durante as sessões fechadas. A OMS se comprometeu a traduzir estas percepções em ação. “Não apenas para melhorar a tradução científica e combater a infodemia durante a pandemia da COVID-19, mas também para estarmos melhor preparados para as próximas emergências de saúde”, afirmou o organismo.

As ações pós-Conferência incluirão:

- A construção de uma rede global e multidisciplinar de comunicadores científicos;

- O diálogo contínuo com pesquisadores, representantes da mídia, tomadores de decisão e profissionais que trabalham nas áreas de Saúde, Educação, Cultura e Turismo para ajudar a

identificar e enfrentar os desafios de forma combinada e colaborativa;

- A criação de recursos de capacitação para comunicadores científicos, a fim de capacitá-los a julgar a qualidade e a independência de pesquisas e compartilhá-las com seus públicos;

- O fortalecimento da alfabetização científica e em saúde para capacitar as pessoas a fazerem perguntas pertinentes sobre as informações que circulam livremente nos meios online e offline, de forma que tomem suas decisões baseadas em evidências científicas;

- A análise dos cases existentes em comunicação científica, com o intuito de entender o que funciona e o que não funciona, para desenvolver conceitos de comunicação científica mais eficazes e inovadores para o futuro.

Além disto, o encerramento contou ainda com as seguintes apresentações:

Repensar a Comunicação: storytelling na era da desinformação, da diretora global de Comunicação da Amref Health Africa, Elizabeth (Lizz) Ntonjira

COVID sonho – a comunicação das Ciências Visuais reimaginada, da fundadora e diretora da Sci-Illustrate Radhika Patnala

Prezada pandemia, Malia Jones e Lindsey Leininge

Meu herói é você - o livro de histórias, dos autores Fahmy Hanna e Ann Willhoite

Até o momento, as sessões de abertura e encerramento da Conferência foram assistidas mais de 20 mil vezes no canal da OMS no YouTube. As gravações, assim como as apresentações, podem ser acessadas aqui.

 

Jornalista: Paulo Schueler. Imagem: Pch.vector, Freepik.

 

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