O Boletim do Observatório COVID-19 Fiocruz, divulgado na sexta-feira (4/6), constatou tendência de crescimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 12 estados, além do Distrito Federal, na Semana Epidemiológica (SE) 21, período de 23 a 29 de maio. Todas as regiões apresentam indicadores preocupantes, principalmente, os estados da região Sul e Centro-Oeste. Cerca de 96% dos casos de SRAG são pelo novo coronavírus.
A COVID-19 e a mortalidade materna é outro destaque da edição. As gestantes e puérperas vêm despontado como um grupo de grande preocupação, diante da evolução da morte materna a níveis extremamente elevados. O Brasil figura com o maior número de óbitos e uma assustadora taxa de letalidade de 7,2%, ou seja, mais que o dobro da atual taxa de letalidade do país, que é de 2,8%.
Um estudo sobre a pandemia nas Américas, publicado em meados de maio de 2021 pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), verificou que entre janeiro e abril deste ano houve um aumento relevante de casos em gestantes e puérperas, e de óbitos maternos por COVID-19em 12 países.
Formas graves
Os especialistas alertam ainda que as gestantes podem evoluir para formas graves da COVID-19, com descompensação respiratória. Em especial, aquelas que estão em torno de 32 ou 33 semanas de gestação. Em muitos casos, há necessidade de antecipar o parto.
Esse quadro aumenta a preocupação em relação à disponibilidade de leitos de UTI adulto para essas mulheres e de leitos de UTI neonatal para os recém-nascidos, que podem ser inclusive prematuros. Os pesquisadores alertam que ambos precisam de cuidados especializados e imediatos. A partir de meados de 2020, começaram a ser publicados artigos sobre a morte de gestantes e puérperas por COVID-19 no Brasil, alertando para a necessidade de preparação e organização da toda a rede de atenção em saúde.
De acordo como Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr COVID-19), os óbitos maternos em 2021 já superaram o número notificado em 2020. No ano de 2020, foram 544 óbitos em gestantes e puérperas por Covid-19 no país, com média semanal de 12,1 óbitos, considerando que a pandemia se estendeu por 45 semanas epidemiológicas nesse ano. Até 26 de maio de 2021, transcorridas 20 semanas epidemiológicas, foram registrados 911 óbitos, com média semanal de 47,9 óbitos, denotando um aumento preocupante.
Taxas de incidência e de mortalidade por COVID-19
O Observatório COVID-19 Fiocruz chama a atenção que, diante da proximidade do inverno, o atual cenário da pandemia pode se exacerbar, com o surgimento de casos mais graves de Covid-19 e maior ocorrência de outras doenças respiratórias, que também necessitam de leitos hospitalares.
Foi observada uma estabilidade, nas duas últimas semanas epidemiológicas, das taxas de incidência e de mortalidade por COVID-19, confirmando a formação de um platô com altos valores médios diários de casos e óbitos. A maior parte dos estados apresenta a mesma tendência, o que pode ter como consequência o surgimento de milhares de casos graves que irão necessitar cuidados intensivos.
Perfil demográfico e ocupação de leitos
Os pesquisadores do Observatório COVID-19 Fiocruz confirmam uma mudança no perfil demográfico da pandemia, que vem registrando um aumento expressivo de casos, internações e óbitos nas gerações mais jovens.
No cenário atual da pandemia, todos os estados das regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, e a maior parte da região Sudeste (com exceção do Espírito Santo) estão com a ocupação de leitos de UTI em níveis críticos (≥ 80%) ou mesmo extremamente críticos. Dezessete capitais também se encontram em níveis críticos ou extremamente críticos. O sistema de saúde está sobrecarregado, com capacidade de resposta comprometida para o atendimento a esses casos, assim como para outras demandas represadas.
Considerando que as taxas de ocupação de leitos UTI constituem a “ponta do iceberg” e que o Brasil ainda não alcançou uma queda sustentada de casos e óbitos, os pesquisadores alertam para o fato de o país está diante de um momento crítico, com riscos reais de agravamento da pandemia nas próximas semanas.
Experiências Promissoras
A análise ressalta que experiências promissoras, como a vacinação em massa promovida pelo Instituto Butantan no município de Serrana (São Paulo) e divulgada nos meios de comunicação, indicam que um esquema vacinal completo de 75% da população produz impactos bastante positivos para todos os habitantes. Ao mesmo tempo, segundo os pesquisadores, há um longo caminho ainda a ser percorrido para que se possa chegar a um percentual próximo para todo o Brasil.
“Para que novas crises ou mesmo o colapso do sistema de saúde sejam evitados, com manutenção ou diminuição dos patamares de óbitos, se faz necessário desde já manter a necessária articulação entre medidas e ações de imunização, combinadas com as medidas não farmacológicas - tais como manutenção das medidas de isolamento social, uso de máscaras, higiene das mãos e a não aglomeração -, envolvendo todo o sistema de saúde, da [Atenção Primária em Saúde] APS aos leitos UTI COVID-19, incluindo atividades de reabilitação para os casos pós-agudos”, alertam.
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Fonte: Regina Castro, da CCS/Fiocruz. Imagem: Tirachardz, Freepik.