A Gestão do Conhecimento de Bio-Manguinhos realizou no dia 10 de fevereiro o Encontro do Conhecimento “Biossimilares: do desenvolvimento tecnológico ao mercado”. A live teve como objetivo discutir os desafios e as perspectivas para o desenvolvimento de biossimilares no Brasil e na Espanha. Daniel Ribeiro, da Coordenação Tecnológica de Bio-Manguinhos, moderou o evento.

Na introdução, ele destacou a importância da entrada dos biossimilares no SUS. “Os biossimilares são uma grande oportunidade para o Brasil desenvolver o seu parque tecnológico e se tornar autossuficiente na produção de princípios ativos de origem biológica para o tratamento de diversas doenças que acometem os brasileiros ”.

A palestra “Desafios da transferência tecnológica e produção comercial de produtos biossimilares” foi ministrada por Luisa Amoedo, que atua nas Operações em soluções de desenvolvimento e teste de linha celular da Sartorius. Luisa comenta que os biossimilares são similares ao produto de referência, pois é “difícil ser exatamente igual pela complexidade da molécula”. Para ela, o essencial no desenvolvimento de um biossimilar é “demonstrar que não há diferença significativas na qualidade, eficácia e segurança entre ambos”.

Ela enfatiza que é importante “conhecer perfeitamente os atributos do produto inovador através de testes analíticos para reproduzir a molécula seguidos dos testes não clínicos e clínicos”. Destacou também sobre os requisitos necessários para transferências de tecnologia obterem sucesso, “Nessas parcerias, é indispensável ter todas as informações bem identificadas e documentadas, de todos os processos, para as agências reguladoras acompanharem da melhor maneira possível através de auditorias, que vão comparar e validar que os processos são iguais. Essa documentação detalhada vai garantir o sucesso da transferência”, explicou Luisa.

Entre os pontos chave no desenvolvimento de um biossimilar está produzir mais por um valor menor, e o momento atual do mercado farmacêutico está favorável para isso. “Para a produção de um biossimilar ser viável, deve ser possível escalonar os processos, porque isso influencia diretamente no preço”, esclareceu.

A segunda palestra foi sobre os “Principais desafios regulatórios e técnicos para o estabelecimento de uma linha de produção de biossimilares”, apresentada por Luciana Dzik, que atua na Aplicação de produtos na área de BioAnalítica da Sartorius. Ela frisou que a pureza, estrutura molecular e atividade biológica dos biossimilares são altamente similares aos produtos inovadores.

Ela detalhou a diferença entre os sistemas de expressão de procariotos (com bactérias, organismos mais simples) e eucariotos (com leveduras ou células animais, organismos mais complexos) e cada um tem sua qualidade e seus benefícios. Além disso, mostrou como se dá todas as etapas da produção em células eucarióticas (upstream e downstream) para um biossimilar de alta qualidade. A caracterização e as testagens dos biossimilares também foram explicados pela especialista, assim como os ensaios não-clínicos, apresentando um guia da ANVISA que orienta sobre a condução desses estudos.

Luciana apresentou, ainda, os marcos regulatórios a respeito de biossimilares no Brasil, como a RDC 80/2002 que contém a primeira definição de produtos biológicos, depois saindo a RDC 315/2005, que regula as alterações pós-registro e revalidação de registro dos produtos terminados, depois a RDC 55/2010 que define o registo de produtos biológicos novos e, por fim, a RDC 301/2019, que dispõe as boas práticas de fabricação complementares a insumos e medicamentos biológicos. “Toda essa regulamentação deixa claro como é importante ter um banco de células bem caracterizado na produção dos biossimilares”.

Por fim, houve a palestra “Biossimilar de Somatropina: desenvolvimento do processo e inserção no mercado brasileiro’, apresentada por Débora Schoenfeld Prusch, que trabalha na Divisão de Biotecnologia da Cristália. Ela iniciou apresentando o Grupo Cristália, que é um complexo industrial farmacêutico brasileiro. Após, ela explicou como funciona a divisão na qual trabalha.

A somatropina da Cristália utiliza a plataforma de expressão em célula procariótica com hospedeiro E.coli e foi a primeira somatropina biossimiliar aprovada pela Anvisa no Brasil, com desenvolvimento 100% nacional. O produto tem como referência o medicamento genotropin da Pfizer. O registro da Anvisa foi aprovado via desenvolvimento por comparabilidade. O medicamento é voltado para o tratamento de crianças com déficit de crescimento, Síndrome de Turner, baixa estatura idiopática (BEI) ou com pequena estatura para idade gestacional (PIG).

Bio-Manguinhos e Cristália assinaram uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) deste biossimilar com o nome Criscy, que começou a ser fornecido pelo SUS em julho de 2020. “Já foram entregues até agora cerca de 5 milhões de frascos, que equivalem a 10kg de GH”.

Débora comentou que demorou quase 10 anos para o desenvolvimento do biossimilar (2012 a 2019), apresentando todas as etapas desde a pesquisa de bancada até o registro. “Em todas as fases, fizemos muitos testes e fomos auditados pela Anvisa. Contamos com muitas parcerias para realizar esse projeto, como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Nosso banco de pesquisa foi padronizado e caracterizado e o banco de células bem estruturado para o escalonamento industrial para chegar com qualidade no produto final”.

Ela detalhou a caracterização físico-química da molécula, fase que considera extremamente importante para assegurar a qualidade, eficácia e segurança do medicamento. Débora mostrou como foi o estudo clínico de fase I, que foi um estudo comparativo de farmacocinética e farmacodinâmica (biomarcadores) com 38 voluntários adultos saudáveis, sendo publicado em 2016. “Demonstraram similaridade clínica, com qualidade, segurança e eficácia equivalentes”, resumiu a especialista.

Já o estudo de fase III, que foi realizado com 97 crianças com deficiência de GH, foi comparativo, randomizado e investigador-cego. “Neste estudo, 48 crianças receberam o medicamento de referência e 49 receberam o biossimilar. Foi verificada a eficácia após 12 meses e analisado os eventos adversos. Bio-Manguinhos ajudou no desenho de todo o estudo que teve aprovação da Anvisa”, concluiu Débora.

O evento pode ser assistido no Youtube de Bio-Manguinhos.

 

Jornalista: Gabriella Ponte. Imagem: Anyaivanova, Freepik.

 

Alerta de cookies

Este site armazena dados temporariamente para melhorar a experiência de navegação de seus usuários. Ao continuar você concorda com a nossa política de uso de cookies.

Saiba mais sobre nossa Política de Privacidade clicando no botão ao lado.