Com o surgimento de diferentes linhagens virais do Sars-CoV-2, que carregam mutações na proteína Spike, pesquisadores estão em alerta para acompanhar se essas mutações podem conferir vantagem seletiva para a transmissibilidade viral do causador da COVID-19. No Amazonas, esse monitoramento genético do vírus circulante é feito pelo pesquisador Felipe Naveca, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), desde o primeiro caso de COVID-19, ocorrido em março do ano passado, em Manaus. Essa vigilância é realizada em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas (FVS-AM), por meio do Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM).

Recentes estudos foram apresentados pelo pesquisador e sua equipe. Agora, uma análise mais apurada desperta a atenção dos pesquisadores: em 114 genomas completos de Sars-CoV-2 de amostras coletadas no período de 1º de novembro de 2020 a 13 de janeiro de 2021, em diferentes municípios do Amazonas, eles encontraram novos dados referentes à linhagem B.1.1.28, que revelaram sequência semelhante à P.1 (descoberta em janeiro deste ano) à qual se ramificou, sendo denominada P.1-like.

“A P1-like tem menos mutações do que a P.1 em relação à amostra original de Wuhan, mas é a amostra mais parecida. Ela carreia algumas das principais mutações e pode ser um intermediário evolutivo que chegou até a P.1. A gente ainda não tem certeza disso, mas é muito curioso ver uma única sequência que ficou a mais próxima de todo clado da P.1”, comenta Naveca.

A sequência P.1-like apresentou mutações de linhagem P.1 na proteína Spike, além da inserção de 12 nucleotídeos na mesma proteína. Assim como a P.1, os pesquisadores observaram que a sequência P.1-like acumulou um número alto de alterações genéticas.

Outro ponto que preocupa os pesquisadores foi a identificação da presença da mutação E484K na proteína Spike da linhagem B.1.1.33. A detecção das sequências P.1-like e B.1.1.33-E484K em Manaus sugere que a diversidade de variantes de Sars-CoV-2, com mutações preocupantes na proteína Spike, pode ser maior do que descrito inicialmente.

“Em relação à E484K, ela já foi associada com o escape de anticorpos produzidos contra outras linhagens. Então, encontrar isso na P.1 e na P.1-like e agora na B.1.1.33 sugere que essas linhagens também sofreram mutações que foram benéficas para o vírus. A gente ainda precisa entender isso melhor, mas pode ser que essas mutações diminuam a eficiência dos anticorpos prévios”, alerta o pesquisador.

Uma nova Nota Técnica foi disponibilizada pelos pesquisadores, resultado de trabalho realizado em parceria entre pesquisadores da Fiocruz Amazônia, FVS-AM, Lacen-AM, Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Acesse a Nota Técnica na íntegra.

O pesquisador orienta que a população siga os cuidados de prevenção contra a COVID-19. “As recomendações são as mesmas para os cuidados de disseminação do vírus, tanto do vírus original, quanto dessa variante, só que se de fato ela for mais transmissível, a atenção tem que ser ainda maior, porque qualquer descuido pode levar à infecção. Do ponto de vista dos profissionais da saúde, eles já usam EPIs, os melhores possíveis, é só redobrar os cuidados para que sempre tenham a menor chance de serem infectados”.

Os estudos sobre o comportamento do Sars-CoV-2 realizados pela Fiocruz Amazônia são contínuos e recebem apoio da Fiocruz, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

 

Acesse o especial sobre coronavírus do site de Bio-Manguinhos

 

Fonte: Marlúcia Seixas, da Fiocruz Amazônia. Imagem:

 

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