febre amarela vacinacao primatasBio-Manguinhos colaborou com iniciativa de vacinação de primatas não-humanos contra a febre amarela com a doação de doses da vacina 17DD, registrada para uso humano, de forma off label e nas análises laboratoriais para avaliação da segurança e eficácia desta vacina para os animais.

A população de micos-leões-dourados na natureza sofreu forte impacto com surto de febre amarela ocorrido desde o final de 2017 na única região de ocorrência da espécie, a Mata Atlântica do interior do Estado do Rio de Janeiro.

O censo de 2014 havia estimado uma população de 3.700 indivíduos da espécie. Após o surto de febre amarela, as equipes de monitoramento da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) tiveram dificuldade de localizar alguns grupos de micos. Em 2019, novo recenseamento constatou declínio de 32% na população do primata, hoje estimada em cerca de 2.500 indivíduos. O serviço de Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro comprovou com exames que a espécie é vítima da doença.

Diante do impacto, os cientistas que pesquisam o mico-leão-dourado no Rio de Janeiro propuseram a vacinação da espécie como forma de evitar uma redução ainda maior da população silvestre. O estudo com essa recomendação foi publicado na revista científica Nature em setembro de 2019.

O assessor científico de Bio-Manguinhos, Marcos Freire, que é conselheiro da AMLD, coordena o estudo sobre o uso da vacina 17DD nos animais. “Sempre trabalhamos com primatas não-humanos, para avaliar as vacinas, os lotes-sementes, a definição dos insumos necessários para a produção, além de avaliarmos a segurança das vacinas e dos lotes-sementes virais nós fazermos como rotina a pesquisa de melhoramento da vacina e avaliação de vacinas candidatas para a FA. Desde o início da década de 1990, o nosso grupo faz isto nos chamados macacos do Velho Mundo, mais especificamente nos macacos rhesus, não aqueles da fauna brasileira, macacos do Novo Mundo. Estes nunca foram usados como modelos animais para a vacina de febre amarela 17DD ou mesmo novas abordagens, como vacinas de subunidade ou inativadas”, comenta Marcos.

Nos micos-leões-dourados, foi usada uma diluição da dose da vacina em torno de 1/150 em relação à dose usada em seres humanos. A primeira fase do programa prevê a vacinação de 500 animais em um período de até três anos.

O trabalho é conduzido pela Associação Mico-Leão-Dourado, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz ou (Fiocruz), a Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro e a ONG Save The Golden Lion Tamarin, com acompanhamento de órgãos dos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, e faz parte do Plano de Ação Nacional para a conservação dos primatas da Mata Atlântica e preguiça de coleira, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Primatas do Brasil / ICMBio.

Após obterem resultados de imunogenicidade e de segurança positivos nos animais da espécie mantidos em cativeiro no CPRJ, em outubro teve início a vacinação dos animais silvestres. "O trabalho inclui a captura dos grupos familiares de animais na mata, para que sejam levados ao laboratório, vacinados, observados por 24hs antes de serem devolvidos à natureza. As amostras são coletadas para avaliar a eficácia da vacina, o status sorológico para FA (inquérito sorológico) e a presença de outros patógenos. Alguns grupos, depois de vacinados e com a comprovada seroconverção, serão translocados para florestas cuja população foi reduzida pela doença”, comenta Marcos. “Esperamos obter resultados satisfatórios, que permitam aos veterinários vacinar animais que correm risco de extinção, mas este estudo vai nos permitir aprender um pouco mais sobre a FA silvestres com os resultados obtidos no inquérito sorológico destes animais”, conclui o assessor científico de Bio-Manguinhos.

 

Jornalista: Paulo Schueler. Imagem: Petr Kratochvil, Domínio Público.

 

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