Durante 4 dias, aldeias indígenas dos municípios de Humaitá e Manicoré no Amazonas foram atendidas em mutirão realizado pela Fiocruz Rondônia, em parceria com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei Porto Velho/Polo Humaitá) e Casa de Saúde Indígena (Casai Humaitá).
No mês de setembro, mais de 20 mil equipamentos de proteção individual (EPIs) e insumos haviam sido doados ao Dsei Porto Velho, para distribuição aos profissionais que atuam na saúde indígena. Como resultado dessa mobilização, as doações puderam chegar a diferentes comunidades indígenas na capital e no interior do estado, e mais recentemente aos municípios de Manicoré e Humaitá, região Sul do Amazonas, onde foi realizado o mutirão, contando com colaboração de Bio-Manguinhos, por meio da doação dos kits de testes rápidos.
Nesta última ação, foram realizadas palestras sobre COVID-19 para cerca de 800 indígenas das etnias Tenharim, Parintintin, Jiahui, Mundurucu e Torá, entre outras. A iniciativa também levou capacitação a alunos indígenas do curso Técnico de Enfermagem do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas e a profissionais de saúde, que atuam no atendimento a aldeias da região, além da realização de 680 testes rápidos e doação de 200 máscaras aos moradores das áreas visitadas.
De acordo com o líder indígena, Aurélio Tenharim, que também atua como assessor técnico do Dsei Porto Velho e Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), o avanço da COVID-19 em comunidades indígenas do Brasil é uma triste realidade. “Na verdade, não esperávamos que o vírus fosse chegar com tanta rapidez em nossas aldeias, mas fomos surpreendidos, e a situação se torna ainda mais preocupante, porque muitos de nossos parentes precisam se deslocar com frequência para a cidade”, revela Aurélio Tenharim, que também aponta as constantes invasões em terras indígenas e o comércio ilegal de madeira como fatores facilitadores do avanço do vírus Sars-CoV-2 dentro dessas comunidades.
A responsável pela Casai de Humaitá, Marisa Ferreira, reforça que o enfrentamento à COVID-19, principalmente entre os povos indígenas, exige um trabalho multidisciplinar das equipes de saúde indígena dentro dos territórios, e o “principal desafio é buscar a conscientização sobre as medidas de segurança determinadas pelos órgãos de referência, além de oferecer um atendimento ágil para o combate à propagação do vírus”. Nesse sentido, foram desenvolvidas diversas estratégias para aprimorar e fortalecer os serviços de Atenção à Saúde Indígena, no contexto da pandemia do novo coronavírus, o que permitiu o acolhimento dos casos suspeitos de Síndrome Gripal (SG), e a identificação precoce de Covid-19 na população indígena.
Parceria com a Fiocruz Rondônia
As ações realizadas pela Fiocruz Rondônia, por meio desta parceria com o Dsei Porto Velho (Polo Humaitá/AM) e a Casai do município, são uma continuidade de outras iniciativas já desenvolvidas pela instituição, com os povos indígenas de Rondônia e Amazonas, especialmente sobre a COVID-19, desde o início do surto no Brasil.
Para Deusilene Vieira, pesquisadora em Saúde Pública e chefe do Laboratório de Virologia Molecular, que participou do mutirão, a Fiocruz Rondônia vem, historicamente, assumindo importante papel de valorização da vida e da saúde dos povos da Amazônia, por meio das atividades de pesquisa e formação de recursos humanos, “além de abraçar iniciativas que possam amenizar o impacto de doenças emergentes, como é o caso da COVID-19, que trouxe tantos prejuízos à população local”, reforçou.
De acordo com a pesquisadora, as ações devem continuar e poderão beneficiar outras comunidades indígenas nos municípios de Jaru e Guajará-Mirim, área de fronteira com a Bolívia.
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Fonte: José Gadelha, da Fiocruz Rondônia. Imagem: Bernardo Portella.