A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, participou de webinar organizado pela Brazil Alumini Network de Oxford para debater sobre o processo de desenvolvimento da vacina para COVID-19, com a presença do pesquisador brasileiro Pedro Folegatti, que atua como líder clínico no projeto da universidade britânica. A vacina ChAdOx-1 ou AZD1222, conhecida como a vacina de Oxford, é hoje uma das mais avançadas em desenvolvimento no mundo e será produzida pela Fiocruz, após a assinatura de acordo de encomenda tecnológica com a farmacêutica AstraZeneca, detentora da patente. Assista à íntegra do debate.

“O que permitiu à Fiocruz, e também ao Brasil, participar de uma forma qualificada e diferenciada desse processo de busca pela vacina foi a sua base científico-tecnológica e também a existência de um sistema único de saúde que possui um componente de ciência, tecnologia e inovação. Ou seja, políticas públicas de saúde e de ciência de tecnologia”, afirmou a presidente da Fiocruz.

Na Fiocruz, a produção da vacina, após adequação da fábrica para absorção da tecnologia, ficará a cargo do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). O Instituto tem um histórico de fabricação desses produtos e de incorporação de tecnologia. Os recursos para a adaptação da planta de Bio-Manguinhos e para a compra do primeiro lote de vacinas virão de uma medida provisória que destinará R$ 1,9 bilhão para a Fiocruz.

Nísia destacou que a Fundação tem recebido muitos recursos para o enfrentamento da pandemia, mas reforçou a importância da continuidade dos aportes em ciência para que se possa ter sustentabilidade das ações e evitar a fuga de cérebros. “Tenho aqui comigo nesse debate um jovem pesquisador brasileiro em Oxford. Isto nos dá uma satisfação enorme, mas também levanta a necessidade de termos esses pesquisadores nas instituições daqui. É muito importante a circulação internacional, mas precisamos ter políticas para a fixação de jovens doutores no país”, lembrou.

Outro ponto destacado pela presidente da Fiocruz foi a resolução da Assembleia Mundial da Saúde (AMS) que determinou que as vacinas para COVID-19 são bens públicos e não deveriam ser objeto de lucro durante a pandemia. O acordo com a AstraZeneca vai permitir que o Brasil produza a vacina a um custo de cerca de US$ 3.

Processo acelerado é resultado de anos de pesquisas

O pesquisador de Oxford explicou que o processo de desenvolvimento da vacina contra COVID-19 não começou no início deste ano, mas é o resultado de anos de pesquisas anteriores. Folegatti destacou que o projeto não pulou nenhuma etapa e passou por Comitês de Ética Independentes. “A segurança não está sendo comprometida”, garantiu.

A vacina de Oxford é feita a partir de um recombinante viral de outro vírus, o adenovírus. “O que fazemos é deletar parte do gene que é responsável por sua replicação e substituir pelo material do novo vírus que queremos utilizar. A grande vantagem dessa estratégia é que usamos o mesmo molde, não precisamos manipular o vírus no laboratório, a única coisa que precisamos é o sequenciamento genético desse novo vírus”, explicou o pesquisador.

A tecnologia já vinha sendo pesquisada para o desenvolvimento de vacinas para zika, chikungunya e até mesmo outro coronavírus “primo” do Sars-Cov-2, o Mers-Cov. “É uma tecnologia que serve para qualquer outra doença que a gente queira proteger. Por isso, a ideia de plataforma de vetor viral contra doenças emergentes”, resumiu. Isso permitiu que o grupo fosse o primeiro a começar a fase 3 de testes, a última fase do processo, em humanos para verificar a eficácia da vacina.

Mesmo otimista, Folegatti prefere não dar previsão para os resultados dos testes, uma vez que a velocidade para as respostas dos ensaios clínicos depende da evolução dos casos nos locais onde eles ocorrem. “Mas o importante são as etapas que estão correndo em paralelo, já estamos preparando todas as fábricas para a produção da vacina assim que aprovada”, afirmou o cientista de Oxford.

A presidente Fiocruz explicou que isso vem sendo feito na Fiocruz e no Brasil. Bio-Manguinhos está adaptando sua fábrica e o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) das primeiras doses deve chegar ao Brasil em dezembro deste ano. Enquanto isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está implementando um processo de submissão e validação dos resultados parciais chamado de rolling submission que permite uma aprovação mais rápida, a exemplo do que ocorre para outros produtos.

O Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), também está se mobilizando para definir as prioridades de aplicação da vacina, que deve atender primeiro grupos de risco para COVID-19. “Estamos nos antecipando para garantir uma vacina de qualidade para população brasileira através do SUS. Todo esse processo garantirá a confiança e a segurança da população na vacina”, explicou Nísia.

 

Assista à íntegra do debate

 

Acesse o especial sobre coronavírus do site de Bio-Manguinhos

 

Fonte: Júlia Dias (Agência Fiocruz de Notícias). Imagem: Getty Images

 

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