transmissao comunitariaCom o objetivo de compreender melhor o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizaram um amplo estudo genético envolvendo quase uma centena de amostras de pacientes de todas as regiões do país infectados pelo vírus Sars-CoV-2 nos primeiros momentos da pandemia em território nacional.

O estudo foi liderado por especialistas do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, Referência Nacional em Vírus Respiratórios junto ao Ministério da Saúde e Referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Covid-19 nas Américas, e do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A pesquisa também contou com a participação de profissionais da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde, do Instituto Evandro Chagas (IEC), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade da República do Uruguai, de Laboratórios Centrais de Saúde Pública e das Unidades da Fiocruz na Bahia e no Mato Grosso do Sul.

Por meio do sequenciamento completo das amostras, os especialistas detectaram que pelo menos seis linhagens do Sars-CoV-2, causador da Covid-19, circularam nos primeiros meses da pandemia. O estudo aponta também que uma linhagem específica se espalhou rapidamente pelo país, podendo estar relacionada à transmissão comunitária em escala nacional. Os resultados do estudo foram submetidos em 'preprint' no repositório bioRxiv, que permite a divulgação acelerada de pesquisas relacionadas ao tema.

Segundo a líder do estudo, a pesquisadora Paola Cristina Resende, do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC/Fiocruz, o sequenciamento do genoma completo viral é uma ferramenta importante para o conhecimento da disseminação do vírus, tanto no Brasil como em outros países. "A caracterização das linhagens virais permite compreender o tipo de vírus que está circulando em determinada região e realizar comparações acerca da circulação das linhagens entre os países e até mesmo dentro do país. É um passo importante para entender como a linhagem está se comportando e se dispersando em cada região geográfica", explicou.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores realizaram o sequenciamento de amostras de 95 indivíduos, coletadas entre 29 de fevereiro e 28 de abril, de todas as regiões do país, incluindo o Distrito Federal e nove estados: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Acre, Amapá, Pará, Alagoas, Bahia, Maranhão e Santa Catarina.

A partir da análise, os especialistas detectaram a circulação de seis linhagens de Sars-CoV-2 (A.2, B.1, B.1.1, B.2.1, B.2.2 e B.6). A maior parte das sequências obtidas no estudo foi classificada como clade B.1 com predominância para o sub-clade B.1.1. Segundo Paola, a prevalência do sub-clade B.1.1 na amostragem foi ainda maior quando comparada a outras sequências brasileiras disponíveis no GISAID, um banco de dados genômicos internacional dos vírus influenza e do novo coronavírus. "O clade B.1.1 foi a única linhagem detectada em indivíduos sem histórico recente de viagem internacional, enquanto quatro linhagens diferentes foram detectadas entre os seis indivíduos com histórico recente de viagem internacional, ou seja, casos importados, e seus contatos", ressaltou.

Para investigar a alta prevalência da linhagem, os pesquisadores realizaram uma análise filogenética, uma espécie de árvore genealógica do vírus. As 95 sequências brasileiras foram comparadas com outras 3.764 sequências disponíveis no GISAID. A investigação contou com a participação do pesquisador Gonzalo José Bello Bentancor, do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC. Os resultados sugerem que a linhagem tenha surgido na Europa por volta do dia 02 de fevereiro e chegado ao Brasil algumas semanas depois, a partir de múltiplas introduções independentes. As análises indicam que a linhagem alcançou diferentes regiões do Brasil por volta de meados de março. O estudo mostra, ainda, que a linhagem foi encontrada em países vizinhos da América do Sul, como Argentina, Chile e Uruguai, e em países mais distantes, incluindo Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália.

A caracterização inicial da linhagem apontou duas substituições de aminoácidos na estrutura do vírus. Por ter apresentado estas pequenas mutações, os pesquisadores denominaram a linhagem como B.1.1.BR. Estudos complementares são necessários para indicar possíveis implicações dessa mutação em fatores como transmissibilidade ou impactos da infecção, por exemplo.

 

Acesse o especial sobre coronavírus do site de Bio-Manguinhos

 

Fonte: Lucas Rocha (IOC/Fiocruz). Imagem: Freepik

 

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