A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou o segundo Fórum Global de Pesquisa e Inovação em COVID-19, com a participação de cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O Fórum, que acontece de maneira virtual, teve como objetivo atualizar o que já se sabe sobre a nova doença e quais são as lacunas de conhecimento, onde a pesquisa deve investir. Com isso, busca-se acelerar o desenvolvimento do conhecimento sobre o tema.
A abertura do evento foi feita pela cientista chefe da OMS, Soumya Swaminathan, que agradeceu aos grupos de trabalho e as instituições que têm participado do esforço em todas as regiões. Ela voltou a reforçar a importância da colaboração internacional e a disposição da OMS em continuar apoiando esse esforço como uma estratégia fundamental para o enfrentamento da pandemia.
Cientistas estão trabalhando em conjunto, compartilhando métodos e dados, e se reunindo, há mais de quatro meses, em nove grupos sobre: transmissão; interação humano-animal e ambiental do vírus; estudos epidemiológicos; caracterização e manejo clínico; prevenção e controle; vacinas; terapêuticas; ética para pesquisa; e ciências sociais. Representando a Fiocruz, os pesquisadores Thiago Moreno (CDTS), Paula Reges (INI) e Gustavo Matta (Ensp) acompanharam as discussões dos grupos de terapêuticas, de caracterização e manejo clínico e de contribuições das ciências sociais, respectivamente.
Com mais de mil e duzentos participantes, entre membros da OMS e cientistas, a reunião avaliou os progressos feitos até hoje. Entre eles, destacam-se os esforços para busca de uma vacina. Segundo a OMS, dos mais de 146 estudos de vacinas em andamento, 17 candidatas estão em fase avançada, sendo a desenvolvida pela Universidade de Oxford a única que já está em fase 3 dos estudos clínicos. Esta é a vacina que a Fiocruz vai passar a produzir, através de Bio-Manguinhos, a partir de acordo anunciado no dia 27/6. Para os presentes, no entanto, é importante que as pesquisas não sejam abandonadas após o sucesso de uma das candidatas.
Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, grande parte das esperanças no momento estão baseadas no trabalho científico, de onde se esperam respostas para melhorar as intervenções e incorporar novas alternativas que farão mais efetivo o controle da pandemia. Adhanom reforçou a importância da reunião e agradeceu a todos pelos progressos feitos desde a reunião em fevereiro, quando foi realizado o primeiro fórum sobre COVID-19, em Genebra, com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
“Temos acompanhado, desde a detecção da nova doença, as descobertas e discussões da comunidade científica internacional sobre a Covid-19, buscando contribuir e dar as melhores respostas à grave crise humanitária que nos afeta. Eventos como esse nos permitem ver o quanto avançamos até aqui e traçar estratégias conjuntas em defesa da vida, de aceleração das respostas em diagnóstico, medicamentos e vacinas, e do fortalecimento dos sistemas de saúde”, afirmou a presidente da Fiocruz.
O grupo também revisou os dados mais recentes do estudo de Solidariedade da OMS, que no Brasil é liderado pela Fiocruz, e de outros estudos concluídos e em andamento para possíveis terapêuticas: hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir, remdesivir e dexametasona. Eles concordaram com a necessidade de mais ensaios para testar antivirais, drogas imunomoduladoras e agentes antitrombóticos, bem como terapias combinadas, em diferentes estágios da doença.
No final do evento, um plano global de pesquisa para os próximos meses foi traçado, com a identificação das questões emergentes de pesquisa, das principais lacunas científicas e de novas prioridades. Como orientação geral, os cientistas levantaram a necessidade de aumentar a articulação entre os grupos de trabalho, a ênfase nos países de baixa e media renda, o acesso equitativo a possíveis medicamentos e vacinas, e a aplicação dos resultados em comunidades vulneráveis, além de expandir a rede com a participação de outras organizações que já apoiam o mapa de pesquisa e desenvolvimento da OMS.
Entre os caminhos que a pesquisa deve seguir, foram destacadas a continuidade dos estudos clínicos de vacinas e terapêuticas, assim como estudos sobre a intensidade e duração da resposta imune, a origem do vírus e as formas de disseminação. Os cientistas também concordaram em avançar em pesquisas sobre métodos diagnósticos sorológicos e diagnósticos portáteis, e a integração das pesquisas dessa área com as pesquisas clínicas, sobre vacinas e de epidemiologia. Além disso, foi destacada a importância de desenvolver estratégias para melhorar a preparação para novas ondas e compreender eventos que podem potencializar o transmissão para reduzir seus riscos e também monitorar o papel dos animais na transmissão, uma vez que se trata de uma zoonose.
No campo das ciências sociais foram consideradas prioritárias as pesquisas sobre adesão comunitária ao uso de vacinas, o papel da comunidade na mitigação da pandemia, o papel dos agentes de saúde formais e informais e os determinantes sociais a serem considerados na reconstrução do período pós-pandemia. Também se discutiu a atenção às populacoes nas áreas de conflito, populações vivendo em situação de crise humanitária e epidemias múltiplas. A saúde mental também ganhou destaque como uma importante área de pesquisa.
Diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Mike Ryan somou-se à grande preocupação em conhecer melhor os fenômenos sociais para entender a dinâmica das intervenções sociais, as quais, nesse momento, são uma forma importante de intervenção e que seguirão sendo no futuro, como já aprendido a partir de outras epidemias, como a do ebola.
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Fonte: Julia Dias, da Agência Fiocruz de Notícias. Imagem: Nearxiii, Freepik.