A gravidez é um momento especial, cheio de emoção e antecipação. Mas, para as gestantes que enfrentam o surto da doença do novo coronavírus (COVID-19), o medo, a ansiedade e a incerteza podem afetar esse momento feliz. Para saber mais sobre como as mulheres podem se proteger e proteger seu filho/filha, conversamos com Franka Cadée, presidente da Confederação Internacional de Parteiras.
É seguro continuar as consultas de pré-natal?
Muitas gestantes têm medo de ir a consultas enquanto tomam precauções, como ficar em casa e praticar distanciamento físico quando precisam sair. "Você vê muitas adaptações acontecendo no momento no mundo, com parteiras fazendo consultas por telefone", diz Cadée. "Espero que as mulheres grávidas entendam que estão vendo menos seus profissionais de saúde para protegê-las e proteger o/a profissional de saúde de uma possível infecção e que serão vistas ao vivo quando for necessário". As modificações também podem ser adaptadas para pacientes individuais, dependendo de suas respectivas condições, por exemplo, gestações de menor risco versus de maior risco.
Cadée aconselha à gestante a descobrir quais opções estão disponíveis com seu/sua profissional de saúde e em sua comunidade. "A pessoa que está cuidando de você está perfeitamente engrenada com suas necessidades, então sua parteira ou seu profissional de saúde saberá o que é melhor".
Depois que seu bebê nascer, também é importante continuar recebendo apoio e orientação profissional, incluindo imunizações de rotina. Converse com seu profissional de saúde sobre a maneira mais segura de fazer essas consultas, para você e seu bebê.
No Brasil, as principais orientações são:
- Todas as gestantes assintomáticas ou sem síndrome gripal deverão ter preservado o seu atendimento.
- Não existem procedimentos especiais para mulheres gestantes sem risco epidemiológico.
- As mulheres gestantes com síndrome gripal deverão adiar as consultas em 14 dias. Em caso de necessidade, devem ser atendidas em local afastado dos demais pacientes.
- As mulheres gestantes com síndrome gripal devem ser obrigatoriamente monitoradas pelas equipes de saúde (Atenção Primária), sendo viabilizado um canal de comunicação acessível e rápido, em caso de necessidade. Ainda deve ser divulgado o número 136 do Ministério da Saúde.
- Orientam-se consultas domiciliares para gestantes, puérperas e recém-nascidos, ou o agendamento de consultas em um horário ou em local diferente.
Eu posso transmitir COVID-19 para o meu bebê?
Ainda não existem evidências se o vírus pode ser transmitido da mãe para o bebê durante a gravidez. "O novo coronavírus não foi encontrado no fluido vaginal, no sangue do cordão nem no leite materno", diz Cadée, embora as informações ainda estejam surgindo. Até o momento, o novo coronavírus também não foi detectado no líquido amniótico ou na placenta.
A melhor coisa a fazer é tomar todas as precauções necessárias para evitar a contaminação pelo vírus da COVID-19. No entanto, se você estiver grávida ou tiver recém dado à luz e se sentir doente, procure assistência médica imediatamente e siga as instruções do seu profissional de saúde.
Eu estava planejando dar à luz em um hospital ou clínica de saúde. Ainda é uma boa opção?
"A gestante deve perguntar à sua parteira ou profissional de saúde qual o lugar mais seguro para ela e que precauções estão sendo tomadas de acordo com cada situação específica", recomenda Cadée. "Depende da mulher, de sua situação e do sistema de saúde".
"Você espera que a maioria dos estabelecimentos de saúde tenha instalações diferentes, onde aqueles com COVID-19 entrem por uma entrada e os que não estão infectados entrem por outra. Mas em algumas situações isso não é possível", diz Cadée.
Várias maternidades e hospitais brasileiros elaboraram protocolos clínicos para assegurar que a mãe ou o recém nascido não sejam infectados. A recomendação é não marcar cesarianas ou induzir o parto, para que o binômio permaneça menos tempo internado. As indicações para cesariana devem ser analisadas caso a caso.
Meu parceiro/minha parceira ou algum membro da família pode estar por perto quando eu der à luz?
Embora as políticas variem dependendo do país, Cadée acredita que as mulheres devem ter alguém por perto para apoiá-las, desde que sejam tomadas as devidas precauções, como usar uma máscara na sala de parto e lavar as mãos.
"Estamos descobrindo que em certos países as pessoas não estão autorizadas a ficar com as parturientes, e isso está me preocupando. Entendo que se deseje reduzir o número de pessoas ao redor enquanto a mulher está dando à luz, porque se está tentando reduzir o contato, e isso é muito, muito lógico, mas vamos garantir que uma mulher tenha alguém, uma pessoa, com ela enquanto está dando à luz – o(a) parceiro(a), sua irmã, sua mãe [ou a pessoa mais próxima de sua escolha]. E, por favor, mantenha os bebês com as mães".
"Temos que ter compaixão e entender cada situação como ela é e que os profissionais de saúde, juntamente com os familiares, estão fazendo o melhor possível, usando o bom senso e ouvindo um ao outro. Eu acho isso muito importante: que tentemos trabalhar como uma comunidade".
No Brasil, adota-se a seguinte orientação:
- A presença do acompanhante deve ser permitida (Lei Federal no 11.108), e baseada na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, desde que a pessoa tenha de 18 a 59 anos; não tenha doenças crônicas; não apresente sintomas ou tenha tido contato recente com pessoa infectada ou não coabite com pessoas com suspeita ou diagnóstico de COVID-19.
Estou incrivelmente ansiosa por meu parto. O que devo fazer para lidar com isso?
Ter um plano para o seu parto pode ajudar a aliviar os sentimentos de ansiedade, dando a você mais senso de controle, mas reconhecendo que a situação atual significa que pode haver menos previsibilidade dependendo de onde você more. "Isso deve incluir a quem telefonar quando o trabalho de parto começar, quem fornecerá apoio durante o parto e onde será realizado. Estabeleça quais restrições serão adotadas para o parto hospitalar em relação a pessoas de apoio e familiares", aconselha Cadée.
Ela também recomenda fazer coisas simples em casa para relaxar, "como alongamento, exercícios respiratórios e telefonemas para profissionais de saúde ou pessoas da sua confiança, se necessário". Concentre-se em cuidar de si o máximo que puder.
Que perguntas devo fazer a meu/minha profissional de saúde?
Cadée destaca a importância de se estabelecer um relacionamento de confiança com seu/sua profissional de saúde. "Todas essas perguntas que têm a ver com você e sua saúde, eu as faria livremente. Se você tem um relacionamento aberto com seu/sua profissional de saúde – com sua parteira, com seu/sua obstetra –, ele/ela discutirá essas coisas com você e responderá abertamente. É seu direito absoluto saber essas coisas porque se trata do seu corpo e de seu bebê".
"As parteiras estão respondendo a demandas crescentes em seus serviços, assim como médicos(as) e enfermeiros(as), e podem demorar um pouco mais para responder", observa Cadée. Ela sugere o estabelecimento de um sistema de como e quando se comunicar com seu/sua profissional de saúde. Por exemplo, organize a rotina em relação às consultas e como entrar em contato para atendimento urgente.
Quando se trata de seu plano de parto, é importante fazer quantas perguntas você precisar. Cadée sugere as seguintes:
- Corro o risco de me infectar com coronavírus neste espaço? Alguém mais esteve aqui com Covid-19?
- Como você separa as pessoas com COVID-19 das pessoas sem?
- Há roupas de proteção suficientes para os profissionais de saúde?
- Posso levar alguém comigo? Se não, por que não?
- Posso ficar com meu bebê comigo? Se não, por que não?
- Posso amamentar meu bebê? Se não, por que não?
- Posso ter parto normal ou você faz cesariana? Se sim, por que isso?
Depois de dar à luz, o que posso fazer para proteger meu bebê da COVID-19?
A melhor coisa que você pode fazer é simplificar: fique apenas com sua família e não permita visitas agora. "Verifique também se seus filhos e filhas (se você tem outros filhos e filhas) não estão em contato com outras crianças. Faça com que todos de sua família lavem as mãos com água e sabão e se cuidem bem", diz Cadée.
Embora seja um momento difícil, Cadée recomenda tentar ver o lado positivo de ter esse tempo para se relacionar em família. "Às vezes pode ser muito movimentado para mães e pais receber tantos visitantes. Aprecie a tranquilidade com as pessoas da sua família que residem com você e aproveitem o tempo juntos. É muito especial poder se relacionar apenas com seu bebê, descobrir esse novo ser humano e aproveitar isso".
Brasil
- Mais do que nunca, o apoio da família e a participação do companheiro ou companheira são essenciais para que a mulher sinta-se segura nesse período.
- Nesse momento, os pais precisam assumir seus papéis na criação dos filhos por meio da licença-paternidade, férias e participação nas atividades domésticas, nos cuidados com o bebê e com a mãe.
Estou grávida. O que devo fazer para me manter segura durante a pandemia de COVID-19?
Até o momento pesquisar mostram que as mulheres grávidas não correm um risco maior de contrair o novo coronavírus do que qualquer outro grupo de pessoas. Isso posto, devido a alterações em seu corpo e sistema imunológico, as gestantes nos últimos meses de gravidez podem ser seriamente afetadas por algumas infecções respiratórias e, portanto, é importante tomar precauções. "Eu sei que para mulheres grávidas pode ser muito difícil – é claro que elas cuidam de si mesmas e de seus bebês e às vezes têm outros filhos também –, mas, tanto quanto sabemos, as mulheres grávidas não correm mais riscos do que as outras pessoas e, por esse motivo, precisam fazer as mesmas coisas que todos os outros para se prevenir", explica Cadée. Ela aconselha praticar as seguintes medidas de distanciamento físico:
- Evite o contato com qualquer pessoa que apresente sintomas da COVID-19.
- Evite o transporte público sempre que possível.
- Trabalhe em casa, quando possível.
- Evite grandes e pequenas aglomerações em espaços públicos, particularmente em espaços fechados ou confinados.
- Evite reuniões presenciais com amigos e familiares.
- Use serviços telefônicos, de mensagens de texto ou online para entrar em contato com a parteira, obstetra e outros serviços essenciais.
Medidas de proteção adicionais incluem lavagem frequente das mãos com água e sabão, uso de álcool gel a 70%, limpeza e desinfecção regulares de superfícies frequentemente tocadas em casa, monitoramento de quaisquer sinais ou sintomas consistentes com a COVID-19 e busca de atendimento precoce por um profissional de saúde.
Brasil
- O Ministério da Saúde mudou o protocolo e incluiu grávidas e puérperas no grupo de risco para a Covid-19 (mulheres gestantes em qualquer idade gestacional, incluindo as que tiveram aborto ou perda fetal), com base na experiência da epidemia de H1N1.
Posso amamentar meu bebê com segurança?
"Até onde sabemos, é perfeitamente seguro continuar amamentando", diz Cadée. "Todas as pesquisas mostram que o vírus da COVID-19 não é transmitido pelo leite materno, então a mãe pode amamentar – é a melhor coisa que ela pode fazer pelo bebê".
Se você suspeitar que pode ter o vírus da COVID-19, é importante procurar atendimento médico e seguir as instruções do seu médico. Mães bem o suficiente para amamentar devem tomar precauções, incluindo usar uma máscara, se disponível; lavar as mãos antes e depois de pegar o bebê; e limpar/desinfetar as superfícies. Se você estiver doente demais para amamentar, ordenhe o leite e entregue-o a outra pessoa sadia para que o bebê seja alimentado por meio de um copo e/ou colher limpos – sempre seguindo as mesmas precauções.
O que devo fazer se morar em um espaço lotado?
Muitas mulheres ao redor do mundo vivem muito próximas a muitas outras pessoas, tornando o distanciamento físico muito mais desafiador. Nesses lugares, "eu realmente pediria à comunidade inteira que cuidasse de suas mulheres grávidas", recomenda Cadée. Ela recomenda que as pessoas se afastem o máximo possível das mulheres grávidas e que banheiros determinados sejam designados para elas.
E não se esqueça da importância da lavagem das mãos na comunidade. "O alerta para a lavagem das mãos não é em vão. Covid-19 e sabão não se gostam. É uma medida simples que pode fazer muito bem", diz ela. "Eu realmente espero que, seja qual for a situação que as pessoas enfrentem, a comunidade e os profissionais de saúde pensem em um sistema que seja seguro para mulheres grávidas, que afinal estão dando à luz o nosso futuro. Isso precisa ser valorizado!"
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Fonte: UNICEF. Imagem: Racool studio, Freepik