O coronavírus é o assunto do momento e muitas pessoas estão com dúvidas sobre o Covid-19. Os sintomas associados à infecção são, na sua maioria, os mesmos de uma gripe comum, porém, pode levar a um quadro agudo de doença respiratória grave, com consequente insuficiência respiratória, podendo evoluir para o óbito. A doença ocorre com maior frequência em homens, acima de 70 anos, em indivíduos imunocompetentes.
Entretanto, existe a necessidade de ressaltar algumas peculiaridades a respeito da infecção pelo novo coronavírus nos pacientes reumatológicos, que podem apresentar susceptibilidade aumentada de adquirir a infecção a depender do grau de imunossupressão, variando de acordo com a própria doença de base e/ou conferida pelo tratamento medicamentoso. Esses pacientes fazem uso de corticosteroides, imunossupressores e imunobiológicos e, diante da possível epidemia do novo coronavírus, surgiram algumas dúvidas.
Para esclarecer algumas questões, foram entrevistados os reumatologistas da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos, Amanda Marques e Wilson Rocha. Confira:
- Pacientes reumatológicos que estão em tratamento são mais suscetíveis a se infectar com coronavírus? Se sim, saberiam dizer a probabilidade?
De maneira geral, os pacientes reumatológicos necessitam para o tratamento de sua doença do uso de medicamentos que interferem na imunidade tais como corticoides, imunossupressores sintéticos e biológicos. Sendo assim, são considerados pacientes imunossuprimidos mais suscetíveis a contrair doenças infecciosas. Diante de uma epidemia, como a do coronavírus por exemplo, constituem uma população mais vulnerável, ainda que, até o momento, não haja descrição de casos na literatura de pacientes reumatológicos imunossuprimidos que contraíram o coronavírus. Dentre as medicações reumatológicas utilizadas, a que parece ter maior risco para infecção é o uso prolongado de corticoide em doses maiores que 20 mg por dia.
- O uso de máscaras realmente protege?
Apesar do uso indiscriminado da máscara no atual contexto da epidemia, seu uso é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apenas a pacientes sob suspeita de infecção pelo coronavírus, com objetivo de evitar a possível propagação do vírus através de gotículas respiratórias e aqueles em contato com pacientes sabidamente infectados pelo coronavírus. O uso de máscara não é recomendado à população geral, mesmo em cenários onde haja muitos casos confirmados da doença. Essa medida, além de não ser preconizada, não reduz a necessidade das outra medidas recomendadas pela OMS para prevenção. São elas: lavagem frequente das mãos, espirrar ou tossir na dobra dos cotovelos ou em lenços descartáveis, evitar contato das mãos com o rosto e evitar contato com pessoas sabidamente doentes. Essas medidas visam otimizar os recursos nesse momento de epidemia e proteger os indivíduos, enquanto o uso da máscara fora do contexto apropriado pode resultar em escassez do recurso e gastos desnecessários.
- Esses pacientes precisam tomar algum cuidado especial com relação à doença? Caso o paciente contraia a doença, os sintomas serão os mesmos ou tem algum sintoma diferente?
Segundo Nota Técnica da Sociedade Brasileira de Reumatologia, levando-se em consideração que pacientes com doença reumatológica em uso de medicamentos que modificam a resposta imune estão mais suscetíveis à infecção e a desenvolver quadros com maior gravidade do que uma pessoa imunocompetente, até que novas evidências estejam disponíveis, recomenda-se seguir as orientações emitidas pelos órgãos oficiais já listadas acima. Recomendamos também procurar o médico responsável pelo acompanhamento para retirar dúvidas e para avaliação clínica de quadros infecciosos.
- Se sentir um desses sintomas, deve tomar algum remédio?
Qualquer paciente com suspeita de quadro infeccioso deverá se submeter à avaliação médica para definição diagnóstica e terapêutica. Não recomendamos automedicação.
- Se o paciente reumatológico contrair coronavírus, como é o tratamento? A pessoa precisará parar de tomar a medicação?
O paciente com suspeita clínica (quadro gripal + viagem pessoal ou contato com pessoa que veio de país onde existe epidemia confirmada) deverá receber avaliação clínica através de exames complementares – definição do caso. Se confirmada infecção pelo coronavírus, o tratamento não será diferente, visto que não há um tratamento específico para o vírus até o momento. O tratamento direcionado ao suporte clínico do paciente se dará conforme a gravidade apresentada.
Individualmente, será avaliada a necessidade de interromper o uso dos medicamentos imunossupressores ou imunobiológicos diante da suspeita de infecção pelo 2019-nCov, considerando o grau de imunossupressão conferido e atividade da doença.
Saiba mais no informativo da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Jornalista: Gabriella Ponte