ciencia-03Divulgar as principais descobertas científicas, os avanços tecnológicos na área da ciência e saúde, oferecer informações que tirem as dúvidas da população com relação a doenças, medicamentos, vacinas, procedimentos cirúrgicos e afins... Tudo isso é um grande desafio não só para os cientistas, que possuem o conhecimento, como para os jornalistas, que precisam traduzir a linguagem técnica de maneira que todos entendam o assunto e os benefícios daqueles dados no dia a dia.

Todos sabem que diversos veículos de comunicação, como emissoras de TV, jornais e sites sofrem constantes cortes de profissionais e lidam com a alta rotatividade dentro das redações, dificultando ainda mais o fluxo de informações transmitidas de forma simples e correta. Neste cenário, o espaço para reportagens sobre ciência, saúde e tecnologia torna-se cada vez mais escasso. Ainda assim, a imprensa permanece como importante aliada para a divulgação e popularização da ciência.

Para debater tais desafios, a especialização em Divulgação e Popularização da Ciência promoveu o seminário “Os veículos de comunicação de massa como potencializadores da divulgação científica” no dia 7/8, na Tenda da Ciência,  na Fiocruz. Um dos convidados foi o médico e comentarista de saúde da TV Globo, Globo News e Rádio CBN, Luis Fernando Correia, que falou sobre “Quando a ciência e a saúde viram notícia”, buscando abordar o papel da TV e do rádio na difusão da ciência. Outro convidado foi o pesquisador do Museu Nacional e médico, Murilo Quintans Bastos, que apresentou um projeto de divulgação científica sobre bioarqueologia que tem atraído a atenção de jovens e adultos desde 2007; o Ciência até os ossos foi o ponto de partida para o especialista, que abordou as estratégias, oportunidades e dificuldades para a popularização da ciência no Brasil. 

A editora assistente de Saúde do Jornal Extra, Flávia Junqueira, foi a terceira palestrante. Com o tema “Ciência e saúde para todos: a importância do jornalismo científico popular”, a jornalista explicou como é o fluxo de recebimento de artigos científicos, quais são os temas mais lidos pelo público e contou como é possível converter o ‘cientifiquês’ em uma matéria de jornal. Já o físico e chefe do Laboratório de Imunofisiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Robson Coutinho Silva, comentou sobre “A divulgação científica no cotidiano da população: como e por que divulgar”. À frente do museu de ciências Espaço Ciência Viva, na zona norte do Rio, Robson contou como as atividades são divulgadas e a importância dos meios de comunicação nesse processo, especialmente a internet e as redes sociais. 

 

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É preciso haver um melhor entendimento entre cientistas e jornalistas sobre
assuntos ligados à saúde. Imagem: Gabriella Ponte - Ascom / Bio-Manguinhos 

 

Entrando no tema

Somente de janeiro a abril deste ano, a Assessoria de Comunicação de Bio-Manguinhos, por exemplo, realizou 108 atendimentos à imprensa relacionados apenas à febre amarela, devido à enxurrada de dúvidas e angústias da população por conta da epidemia do tipo silvestre da doença. Dúvidas como quem deveria tomar a vacina, transmissão e sobre a própria eficácia da vacina foram comuns. Por isso, Bio fez parte de uma Sala de Situação de Febre Amarela, composta por profissionais de diversas unidades da Fiocruz, que se reuniam periodicamente para se atualizarem sobre as novidades e alinharem essas novidades antes de transmitir qualquer informação à imprensa. A Presidência da Fiocruz chegou a promover um workshop para jornalistas dos principais veículos do Rio explicando diversos aspectos da doença, como sintomas, tratamento e a vacina.

A importância de organizar o discurso internamente antes de ser transmitido para a população foi um dos cuidados citados por Luis Fernando Correia. “O repórter precisa checar as informações. Por mais que tenha um deadline apertado, é preciso ouvir diferentes fontes para esclarecer as principais dúvidas da população. Já os cientistas precisam ser treinados para saberem passar os dados técnicos de forma mais simples. E as assessorias de comunicação da indústria farmacêutica fazem isso incansavelmente. O desafio é justamente qualificar ambos para transmitir informações de qualidade”, afirmou.

Murilo Quintans apresentou os principais desafios de lidar com um tema tão complexo como ossos. “Muitas pessoas já associam ossos à morte e nossa maior preocupação é desmistificar isso. Tentamos colocar de forma simples, divertida e lúdica em nosso site e Facebook conteúdos que possam ser interessantes para a maior parte da população. Mostramos como a bioarqueologia pode nos falar mais sobre doenças como osteoporose e osteoartrose, identificação do sexo e da idade, fraturas e até artefatos e adornos feitos de ossos. Para as crianças, buscamos a fascinação pelo tema com atividades interativas como uma caixa de areia para escavação de um esqueleto, por exemplo. É importante criar um roteiro, uma linguagem diferente para cada público”, exaltou.

Mostrando recortes de jornal, antigos e recentes, com matérias, especiais e infográficos, Flávia Junqueira citou as dificuldades de aproximar o público classe C e D do tema saúde e ciência. “Sempre que queremos tratar de algum assunto sério e complexo, tentamos associar com alguma coisa mais divertida e lúdica para que os nossos leitores se interessem pela matéria. Nossos textos são enxutos e damos mais espaço para as imagens e infográficos. Chamamos a atenção com associações ao futebol e carnaval, por exemplo. Tentamos explicar termos mais difíceis com situações do dia a dia. Fazemos lives no Facebook; sempre estamos antenados com os temas mais buscados na internet, como câncer, diabetes e sexualidade; procuramos humanizar ao máximo, como o Diário da Valentina, quando acompanhamos os seis primeiros meses de vida de uma bebê com microcefalia. É muito importante oferecer serviço à população”.

O Espaço Ciência Viva, que fica na Tijuca, tinha uma visitação mediana até 2011, quando começou a ser mais divulgado nas redes sociais. A partir daí, não só universitários e acadêmicos da Zona Sul visitavam o museu mas também adultos e crianças da Tijuca e arredores. “O museu é totalmente interativo e isso, por si só, chamaria a atenção. Mas, percebemos que para divulgar ciência atualmente é preciso estar nas redes sociais. Começamos com atividades divertidas e lúdicas em praças. Agora, com um espaço próprio e muito presença em mídias como Facebook, Instagram, Youtube e tendo um site, é possível notar a diferença do público. Vemos uma plateia mais direcionada e interessada”, explicou Robson Coutinho.

 

Jornalista: Gabriella Ponte

 

 

 

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