No Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), as estimativas para o biênio 2016-2017 apontavam a ocorrência de aproximadamente 596 mil novos casos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma. Os tipos mais incidentes são os de pele não melanoma, mama, colorretal, colo do útero e de pulmão para as mulheres; e os de pele não melanoma, próstata, pulmão, colorretal e estômago para homens.

Tais dados são baseados no documento World Cancer Report 2014, publicado pela International Agency for Research on Cancer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde (OMS), para quem “é inquestionável que o câncer é um problema de saúde pública, especialmente entre os países em desenvolvimento. É esperado que, nas próximas décadas, o impacto do câncer na população corresponda a 80% dos mais de 20 milhões de casos novos estimados para 2025”.

O enfrentamento a este problema tem, como um de seus principais desafios, a realização de um correto diagnóstico do câncer – doença que se divide em muitos tipos, que podem atingir diferentes órgãos e demandarem tratamentos também diversificados. Portanto, sua identificação é comumente determinada por iniciativas como a observação de sinais e sintomas no paciente, exames físico, laboratorial e de imagem, além de marcadores tumorais e a biópsia. O diagnóstico correto é fundamental para médicos e pacientes, por fornecerem informações sobre o local, estágio, tamanho e características do tumor, tornando possível definir o tratamento mais eficaz, de acordo com cada caso.

Cancer

Workshiop debateu alternativas de diagnóstico molecular para identificação
do câncer. Imagem: Fábio Meirelles (Ascom /Bio-Manguinhos)

 

O custo desses exames para o Sistema Único de Saúde (SUS) é grande. Como parâmetro da magnitude, a revista Onco, em sua edição de abril e maio de 2015 trazia a manchete: “Ministério da Saúde investe R$ 3,1 bilhões no financiamento da mamografia, citopatológico e outros exames”.

Do corpo da matéria, destacamos: “dados preliminares indicam que em 2014 foram computados 2,4 milhões de exames de mamografia nas mulheres de 50 a 69 anos, ao custo de R$ 111 milhões... Números também preliminares do MS indicam que de 2011 a 2014 foram realizados 41,6 milhões de citopatológicos, ao custo de R$ 281 milhões”.

Para abordar de que forma o diagnóstico molecular pode colaborar para a identificação precoce do câncer, trazendo a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e a economia de recursos para o SUS, Bio-Manguinhos promoveu o workshop Desafios para a implementação do diagnóstico molecular como guia da conduta em oncologia.

O evento contou com a participação de representantes do Inca, do AC Camargo Câncer Center e de diferentes unidades da Fiocruz. Na coordenação, o representante de Bio-Manguinhos, Martin Bonamino, abriu o encontro afirmando que é preciso que o país, através do Ministério da Saúde, tenha uma política estabelecida nesse segmento, para que os entes públicos saibam qual é o norte a seguir. “O pior cenário é não ter esse encaminhamento”, comentou.

Em biologia molecular, os destaques usados no AC Camargo são o fluorescent in situ hybridization (FISH), CISH, microsatelitte instability (MSI), cDNA microarray, tissue microarray (TMA), genes diferencialmente expressos, genes metilados, mutação nos genes de reparo, microdissecção à laser, entre outros. Vladmir Cláudio Cordeiro de Lima, oncologista clínico da instituição, afirmou: “Em 2008 tivemos o primeiro estudo clínico para mutação EGFR, na China, no caso do câncer de pulmão. A ideia era avaliar a sobrevida dosa pacientes com um inibidor específico. No tratamento com quimioterapia, essa sobrevida subiu em média de 16 meses para 30 meses”, ressaltou.

De acordo com ele, o desafio é fazer com que essa sobrevida se estenda. “Se você controla a doença por 20, 30 anos, pode-se dizer que na prática o indivíduo ‘está curado’, pois ao fim ele virá a óbito por outro motivo”, afirmou. “Portanto, precisamos de marcadores específicos, seja o PCR, seja o FISH”, completou.
Dirce Maria Carraro, também da AC Camargo, discorreu sobre o impacto da genômica (NGS) na oncologia, e a necessidade de o país dispor de um banco de dados sobre o DNA de sua população. Segundo ela, isso é fundamental para o cenário de um futuro baseado na medicina personalizada e na farmacogenômica, como é conhecida a prática da indicação da droga certa, na dose certa, para cada paciente.

A implementação de tais práticas no contexto do Sistema Único de Saúde, com as peculiaridades e desafios colocados pelas restrições orçamentárias e logísticas de um país com dimensões continentais, como é o caso do Brasil, foi a tônica do debate que se seguiu. O documento contendo as sugestões será publicado pela organização do evento.


Jornalista: Paulo Schueler

 

 

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