Resultados 

Foram mais de mil amostras analisadas, referentes a 392 mosquitos. Somente em dois exemplares de mosquitos Culex quinquefasciatus, provenientes dos bairros de Triagem e Manguinhos, foi detectada infecção inicial no abdômen/tórax, no período de 14 dias após a alimentação com sague infectado, e nenhuma partícula viral foi identificada na cabeça e nem na saliva desses mesmos mosquitos. “O achado indica que o vírus Zika não consegue se disseminar completamente pelo corpo do Culex quinquefasciatus. Logo, os dados mostram que o inseto não é capaz de transmitir o patógeno, uma vez que não há presença de partículas infectantes do vírus na saliva que possam ser expelidas no momento da picada e infectar um ser humano”, explica Lourenço. 

Para uma análise comparativa, os mesmos protocolos foram usados para testar mosquitos Aedes aegypti também do Rio de Janeiro, provenientes dos bairros da Urca, na Zona Sul, e de Paquetá, ilha situada na Baía de Guanabara. Os resultados foram completamente distintos: enquanto as taxas de infecção no abdômen/tórax entre os Culex quinquefasciatus foram mínimas (apenas dois exemplares, após 14 dias de alimentação com sangue infectado), altos índices de infecção no abdômen/tórax foram verificados entre 85% a 97% dos Aedes aegypti testados após 14 e 21 dias da alimentação com sangue infectado, independentemente da linhagem do vírus Zika usada no experimento. “Chegamos a detectar Aedes que em apenas sete dias após a alimentação já apresentavam infecção no abdômen/tórax”, enfatiza Ricardo. Se, nos Culex quinquefasciatus, não foram observadas partículas virais na saliva em nenhum período de tempo após a alimentação com sangue infectado, mais de 90% dos Aedes apresentaram vírus ativo na saliva 14 dias após a alimentação.

“Pouco é sabido sobre o vírus zika e sua interação com o organismo do mosquito. É possível que a combinação entre as variações genéticas dos vírus e as variações genéticas dos mosquitos, ao longo de sua distribuição territorial, impacte na competência para a transmissão. O que podemos dizer é que, com base em amostras representativas tanto para os mosquitos quanto para o vírus Zika, no Rio de Janeiro, os resultados, até o momento, apontam que o foco para o controle da doença, no Brasil e em áreas endêmicas nas Américas, deve permanecer na eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti”, avalia o pesquisador.

Parceira do estudo, a pesquisadora Anna-Bella Failloux, chefe da unidade de Arboviroses e Insetos Vetores do Instituto Pasteur de Paris, ressalta a importância do resultado. “O trabalho em conjunto com a equipe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários está nos permitindo, mais uma vez, contribuir diante de uma emergência de saúde mundial. Essa colaboração ocorre no contexto da rede internacional dos Institutos Pasteur, que conta com 33 unidades em diversos países e da qual o Instituto Oswaldo Cruz e a Fiocruz fazem parte”, acrescenta a cientista.

 

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A partir dos resultados, os pesquisadores Ricardo Lourenço e Anna Bella Failloux
consideram que o combate à Zika deve ter como foco os criadouros do mosquito 
Aedes aegypti. imagem: Josué Damacena

 

Inseto vetor

Para determinar que a transmissão de uma doença é realizada por uma determinada espécie de inseto vetor é necessário realizar duas constatações. Além de comprovar em laboratório que este vetor é capaz de transmitir o vírus, por meio de testes que avaliam a capacidade de transmissão, é necessário localizar na natureza exemplares desta espécie que estejam infectados com o vírus (o que é chamada de infecção natural). Há mais de um ano, a equipe liderada por Lourenço coleta mosquitos em localidades onde foram identificados casos de Zika, no Estado do Rio de Janeiro. Dos mais de mil mosquitos adultos capturados, cerca da metade era da espécie Aedes aegypti e a outra de Culex quinquefasciatus.

A partir desse trabalho, um resultado inédito foi divulgado em maio de 2016, quando, pela primeira vez no Brasil e na América do Sul, mosquitos Aedes aegypti naturalmente infectados com o vírus Zika foram identificados. Por meio da técnica de RT-PCR em tempo real foi possível identificar a presença do material genético do vírus Zika. Quando comparado com amostras de vírus circulantes em humanos no Rio de Janeiro, foi constatada similaridade genética superior a 99%. Nenhum mosquito Culex quinquefasciatus foi encontrado com infecção natural do vírus Zika ao longo das coletas realizadas até o momento. “Este é um trabalho antigo, que realizamos há mais de uma década, incialmente com foco em dengue, e, mais recentemente, ampliado para Zika e chikungunya”, diz Lourenço, acrescentando que as coletas continuam. 

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