Características das formas cardíaca e digestiva

O cardiologista Roberto Saraiva apresentou um estudo realizado com os pacientes portadores da doença de Chagas do INI/Fiocruz entre 2013 e 2016. Ao todo foram avaliadas 619 pessoas, sendo 180 (29%) diagnosticadas com a forma indeterminada, 343 (55%) na fase cardíaca, 34 (6%) digestiva e 62 (10%) a forma mista cardíaco-digestiva. A forma mais significativa em termos de limitação para os doentes é a cardíaca, podendo apresentar alterações eletrocardiográficas, como uma síndrome de insuficiência cardíaca ou arritmias. Seus sinais e sintomas são palpitação, falta de ar, edema, dor no peito, tosse, tonturas, desmaios, acidentes embólicos, arritmias e sopro cardíaco. Exames como o raio-x de tórax, eletrocardiograma ou holter são fundamentais para revelar possíveis problemas no coração.

O cirurgião Fernando de Barros informou que os problemas mais recorrentes na forma digestiva são o megaesôfago (que acomete de 3 a 13% dos pacientes) e o megacólon (3,1 a 10%). São sinais e sintomas do megaesôfago: disfagia (dificuldade para engolir), regurgitação, dor de estômago ou dor no peito, dor para engolir, soluço, excesso de salivação e emagrecimento. O megacólon se caracteriza por constipação intestinal (instalação lenta e insidiosa) e distensão abdominal. Os exames radiológicos são importantes no diagnóstico da forma digestiva da doença.

 

Tratamento

Existe apenas um único medicamento para tratar a doença de Chagas, conhecido como Benzonidazol. O remédio, lançado em 1972, é distribuído gratuitamente pelo Governo Federal e ministrado na fase aguda da doença - que dura em média dois meses – e tem um índice de cura de 70%. “No INI, aproximadamente 300 pacientes que passaram pelo nosso serviço fizeram uso do medicamento e 20% deles continuaram positivos para a doença”, informou Sangenis. O médico explicou ainda que existem uma série de contraindicações para que o paciente não receba o medicamento, uma vez que não há evidências científicas de que o mesmo traz benefícios na fase crônica, que pode durar o resto da vida da pessoa infectada, tais como: ter mais de 50 anos, possuir alguma cardiopatia e não estar mais na fase aguda.

“Nossa experiência revela que quem chegar aos 50 anos na fase indeterminada não vai ter mais uma progressão da doença, pois ela já está com o Trypanosoma cruzi há mais de 35/40 anos e o medicamento não fará efeito algum”, destacou. Outro ponto apresentado pelo médico é o alto índice de efeitos colaterais da droga, podendo chegar a 40% nos casos ministrados e ocasionando problemas como reações dermatológicas, neurite periférica, dores de cabeça, barriga ou anemia e até mesmo hepatite ou nefrite.

“Os melhores resultados com o uso do Benzonidazol são obtidos em adultos e crianças na fase aguda, (cura na maioria dos casos), crianças que tiveram transmissão congênita (mãe grávida), mulheres em idade fértil (para reduzir as chances de transmissão congênita), crianças e adolescentes maiores de 12 anos, pacientes na forma crônica indeterminada com idade inferior a 50 anos e pacientes imunossuprimidos (com Aids ou câncer, por exemplo)”, concluiu Luiz Sangenis.

 


Andréa Silvestre explicou que o dignóstico é realizado a partir de
exame de sangue com sorologia específica para Doença de Chagas. 
Imagens: Antonio Fuchs - INI/Fiocruz

 

Acolhimento e educação em saúde

Nem só em dados clínicos e científicos a Roda de Conversa sobre a Doença de Chagas foi concentrada. O acolhimento oferecido no INI/Fiocruz esteve presente com o comparecimento em peso dos pacientes do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas. Maria Fonseca, paciente que está há 19 anos em tratamento no Instituto, considera os profissionais que a atendem uma extensão da família. “Aprendi a conviver com essa doença aqui no INI. Fui convidada pela equipe para compreender melhor esse problema. Eu faço exames e exercícios de reabilitação regularmente, tenho minhas consultas mensais e só tenho que pedir a Deus que protejam todos os doutores e enfermeiras daqui”, disse.

A Auxiliar de Serviços Gerais que atua junto à equipe de cardiologia há quatro anos, Maria Aparecida, revelou que, por pior que seja a doença, ela vê alegria no rosto dos pacientes quando estes encontram com a equipe para realizar os exames e exercícios. “O atendimento aqui é muito bom e eu recomendo sempre quando ouço alguém falar que pode ter algum dos sintomas da doença. Fui convidada a assistir a atividade e foi um excelente aprendizado para mim, porque assim posso transmitir para outras pessoas o que escutei e ajudar outros que não tiveram tal oportunidade”, afirmou.

Um dos momentos mais emocionantes do evento foi a participação de dois pacientes que passaram por transplante de coração em decorrência da doença. José Osmar, operado há quatro anos, teve a oportunidade de carregar a tocha olímpica graças a seu novo estilo de vida, uma vez que deixou o cansaço e a falta de ar de lado e agora participa de corridas de rua e trilhas pelo Rio de Janeiro. “Essa equipe multidisciplinar é a melhor possível. Comecei meu tratamento aqui, fiz a cirurgia, continuo paciente e é graças a eles que levo uma vida normal hoje”, destacou. Já João Guedes, transplantado há três anos, fez questão de agradecer a cada integrante da equipe por todos os momentos em que estiveram cuidando de sua saúde desde que iniciou tratamento no INI/Fiocruz.

Encerrando a atividade, o chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas, Mauro Mediano, informou que esse foi o primeiro de muitos encontros que estão sendo organizados por sua equipe. “Estamos felizes com essa oportunidade e dando início a todo um processo de trabalho de educação em saúde. Em breve vamos marcar novos encontros, pois este será um processo contínuo. Além desses momentos formais, fiquem à vontade para procurar nossa equipe diariamente e tirar quaisquer dúvidas que vocês tenham. Nossas portas estão sempre abertas”, concluiu.

 

Fonte: Antonio Fuchs e Juana Portugal (INI/Fiocruz)

 

 

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