Dos testes rápidos para diagnóstico do HIV até a aplicação de células-tronco para a reconstrução de órgãos humanos. Esses são apenas alguns exemplos práticos das possibilidades que a biotecnologia aplicada à saúde pode nos trazer em um futuro bem próximo. Marcos Freire, vice-diretor de desenvolvimento tecnológico da Bio-Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), falou sobre essas aplicações biotecnológicas e a sua evolução no Brasil em sua apresentação na 12ª edição do Encontros FAPERJ. O evento teve lugar nesta quarta-feira, 15 de junho, na sede da FAPERJ, promovido pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas para Inovação (Neppi).

Freire contou que, nos anos 1960, o diagnóstico de algumas doenças virais e bacterianas ainda  era feito por meio de testes com pombos, camundongos e outros animais, evoluindo, ao longo do tempo, para a reverse transcription polymerase chain reaction (RT-PCR), e chegando hoje a métodos de diagnóstico bem mais desenvolvidos do ponto de vista tecnológico. Um exemplo disso são os testes rápidos, que podem dar uma resposta à beira do leito, ou point of care, mesmo se ainda for necessário um segundo teste confirmatório. “Acredito que no caso do diagnóstico da presença do vírus HIV ou para a detecção de chicungunya, dengue e zika, por exemplo, os testes rápidos poderiam ser muito úteis. Empregá-los na forma de auto testes para diagnóstico de HIV pode ser interessante, pois ofereceriam uma enorme agilidade e praticidade para que a população pudesse, de forma independente, fazer o teste e procurar um diagnóstico mais específico com um profissional, em caso de resultado positivo”, explica.

 

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Marcos Freire é vice-diretor de desenvolvimento tecnológico da unidade.
Imagem: Bernardo Portella - Ascom / Bio-Manguinhos

 

Outro exemplo de possibilidade em evolução tecnológica em diagnóstico é o biochip. Segundo Freire, o equipamento, do tamanho de um chip de computador, é capaz de realizar um exame completo com uma gota de sangue. O que antes só era possível ser feito em laboratório passa a poder ser realizado de modo mais simples. “Dessa forma, uma pessoa pode ter um diagnóstico de PCR no momento em que é atendida em uma consulta médica.”

As vacinas produzidas em larga escala na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também foram um assunto abordado por Freire. Em meados dos anos 1700, a vacina antivariólica era produzida de forma quase artesanal. Um bezerro era inoculado com o vírus, e as pústulas eram colhidas para a formulação de vacina . “À ocasião, devido à complexidade do processo, o controle de qualidade aprovava vacinas com contaminação inferior  a 10 colônias bacterianas. Era esse o controle de qualidade da época”, conta Freire.

De lá para cá, muita coisa mudou. Na atualidade, há vacinas licenciadas contra mais de 30 doenças infecto-parasitárias humanas, disponíveis em mais de 80 diferentes formulações e combinações vacinais. “Hoje, estão em desenvolvimento vacinas sintéticas, feitas com RNA produzido em laboratório ou com DNA. Há, atualmente, projetos de desenvolvimento de produção de vacinas em diferentes plataformas, como por exemplo, o projeto de produção de uma vacina contra febre-amarela a partir do tabaco.”

 

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Biotecnologia aplicada à saúde: esse foi o tema do último 
Encontros FAPERJ. Imagem: Lécio Ramos

 

Freire ressaltou ainda a importância do Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos para diagnóstico (CIPBR), em fase final de construção na Fiocruz, onde terá lugar a produção nacional de biofármacos, além da produção em escala piloto de insumos de saúde. Com sua construção, será implantado o primeiro laboratório nacional com infraestrutura para a produção de lotes experimentais de biofármacos e vacinas, destinados à realização de ensaios clínicos e à validação de produtos segundo os requisitos internacionais das Boas Práticas de Laboratório (BPL/GLP) e das Boas Práticas de Fabricação (BPF/GMP). Um dos andares desse prédio foi idealizado por Freire, que participou do desenho desta planta pensando na produção de vacinas com base em toda a sua experiência. “Com o prédio, estaremos abertos à colaboração de outras instituições que possam contribuir para o avanço e desenvolvimento de novas vacinas e biofármacos.”

Na Fiocruz, também foi desenvolvido o teste NAT HIV (vírus da Aids), HCV (vírus da hepatite C) e HBV (vírus da hepatite B), hoje implementados nos hemocentros do país, ampliando a segurança na transfusão de sangue. Este teste molecular utiliza uma plataforma automatizada com grande capacidade de processamento, permitindo analisar, ao mesmo tempo, até 552 bolsas de sangue por rotina, com alta rastreabilidade e sensibilidade para detecção do HIV, HCV e do HBV. Desta forma, é possível detectar agentes patogênicos transmissíveis por transfusão sanguínea, reduzindo as chamadas janelas imunológicas, período em que uma infecção não é detectada. “Hoje, todos os hemocentros do Brasil aplicam esse teste, garantindo que sejam mínimos os casos de contágio por doenças como essas em transfusões”, complementa. Freire finalizou a apresentação, falando que as células-tronco são, atualmente, o futuro da biomedicina. 

 

Fonte: Danielle Kiffer / FAPERJ

 

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