Maio é o mês em que as atenções se voltam para a conscientização das Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs), um conjunto de enfermidades crônicas que afetam o trato gastrointestinal e impactam significativamente a qualidade de vida de milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Conhecido como Maio Roxo, o período busca sensibilizar a sociedade, profissionais de saúde e gestores públicos sobre a importância do diagnóstico precoce, tratamento adequado e o enfrentamento cotidiano dos desafios impostos pelas DIIs.
As principais doenças desse grupo são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Apesar de distintas, ambas compartilham características como ciclos de surtos intermitentes (quando a condição piora e os sintomas estão presentes) seguido por períodos de remissão (quando a inflamação está controlada e os sintomas estão ausentes). Os sintomas mais frequentes das DII incluem dor abdominal crônica, diarreia persistente, perda de peso, febre e sangue nas fezes. Essas condições são de caráter imunomediado e crônico, ou seja, não têm cura, mas podem ser controladas por meio de acompanhamento médico e terapias específicas.
Convivendo com as DIIs: desafios e qualidade de vida
Os desafios enfrentados pelos pacientes vão muito além dos sintomas físicos e pode haver impacto significativo em sua qualidade de vida e saúde mental. A redução na qualidade de vida pode ocorrer devido a interrupções na rotina diária, afetando estudos, oportunidades de trabalho e relacionamentos sociais, além de questões como preconceito e limitações físicas.
Além disso, entre os pacientes com DII, é comum o desenvolvimento de condições de saúde mental, principalmente depressão e ansiedade. Estudos mostram que até um terço dos pacientes pode enfrentar esses desafios psicológicos. Quando a doença está em fase ativa (com sintomas presentes), essas condições tendem a se agravar. Por isso, é importante que o tratamento da DII considere também o cuidado com a saúde mental dos pacientes.
O diagnóstico precoce faz toda a diferença. Mudanças persistentes nos hábitos intestinais, dores abdominais frequentes, perda de peso sem causa aparente, febre e sangue nas fezes são sinais de alerta que devem ser investigados. A identificação rápida permite a introdução do tratamento adequado e contribui para a redução de complicações e hospitalizações. Por isso, campanhas de conscientização como o Maio Roxo são essenciais para promover o diagnóstico precoce, desmistificar a doença e combater o preconceito.
Tratamentos disponíveis no SUS
No Brasil, os pacientes diagnosticados com DIIs, como doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, contam com protocolos de tratamento oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que inclui desde medicamentos convencionais até biológicos, como os biofármacos. Entre os medicamentos biológicos empregados no tratamento de DIIs, destacamos a importância do adalimumabe e do infliximabe, que atuam na modulação do processo inflamatório intestinal.
Esses biofármacos são anticorpos monoclonais utilizados nos casos moderados a graves das DIIs e representam um avanço importante no controle da doença, os períodos de atividade inflamatória, melhorando a qualidade de vida e diminuindo os riscos de complicações da doença e a necessidade de intervenções cirúrgicas.
Parte fundamental do acesso ao tratamento se deve às Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), uma política estratégica do Ministério da Saúde voltada para a ampliação da oferta pública de medicamentos considerados essenciais para o SUS. As PDPs associam instituições públicas e laboratórios privados na produção nacional de tecnologias em saúde, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo o Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Bio-Manguinhos e o compromisso com a saúde pública
Bio-Manguinhos/Fiocruz integra essa estratégia por meio do fornecimento do adalimumabe e do infliximabe no Brasil. Os dois medicamentos são disponibilizados para a população pelo SUS, contribuindo de forma concreta para a democratização do acesso a tratamentos de alta complexidade e para a sustentabilidade do sistema público de saúde.
Além do fornecimento desses biofármacos, Bio-Manguinhos participa ativamente do desenvolvimento de novas tecnologias e na incorporação de soluções inovadoras para o tratamento de doenças autoimunes e outras condições crônicas negligenciadas.
Um mês para lembrar, cuidar e informar
O Maio Roxo reforça a importância de políticas públicas consistentes, acesso garantido a tratamentos eficazes e um olhar atento para as demandas cotidianas dos pacientes que convivem com as DIIs. E, mais do que isso, nos convida a refletir sobre o papel da ciência e da produção pública nacional no enfrentamento de doenças crônicas e na promoção da equidade em saúde.
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Jornalista: Gabriella Ponte
Imagem: Freepik