O tema da última palestra do V SACT foi “Vacinologia de Sistemas”, discutida pelo especialista Helder Nakaya, docente do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas do Instituto de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). A vacinologia de sistemas emergiu recentemente como um campo interdisciplinar que combina dados de técnicas de larga escala, estudos de rede e modelagem no contexto da área. A computação vem facilitando os profissionais da área de saúde a realizar seus estudos, ajudando a organizar todos os dados, fazendo uma análise mais profunda e detalhada, resultando em uma melhor compreensão desses dados. “A ciência está se tornando mais interativa”, afirmou Helder.

Por séculos, as vacinas têm sido desenvolvidas empiricamente e, segundo Helder, os especialistas têm um limitado entendimento dos mecanismos moleculares e de como as mesmas induzem proteção. Com a revolução tecnológica que ocorreu nas últimas décadas, hoje é possível acessar e integrar informações de todos os componentes dentro de um sistema biológico (genes, proteínas, células) e usar essas informações para computar e prever o comportamento do sistema.

“Quando aplicado à vacinologia e doenças infecciosas, a biologia de sistemas nos ajuda a entender os mecanismos de resposta do sistema imune e também nos permite identificar marcadores de imunidade. Nossos artigos recentes destacam como a vacinologia de sistemas levou à descoberta de assinaturas gênicas que predizem imunogenicidade das vacinas da influenza e febre amarela, e como sua aplicação em estudos de infecção pode fornecer novas ideias e hipóteses sobre a regulação do sistema imune. É possível prever o que vai acontecer no organismo estudado um mês antes, ou seja, sabemos como ocorrerão as respostas imunes”, explicou o especialista.

 

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Helder Nakaya (USP) explicou como a computação vem facilitando
os profissionais da área de saúde em seus estudos. Imagem:
Fábio Meirelles - Ascom / Bio-Manguinhos

 

Helder contou como funciona a Cemitool, desenvolvida pelo Laboratório de Bioinformática e Biologia de Sistemas Computacional da USP. Abordagens de biologia de sistemas fornecem uma visão holística dos processos biológicos, integrando os muitos componentes moleculares diferentes dentro das células através de redes altamente complexas. “Nosso laboratório desenvolveu uma ferramenta que identifica os módulos de genes de co-expressão de uma maneira fácil e confiável”, destacou.

Ainda foi apresentado um projeto chamado Sipos (Sickness Positioning System), que ainda está em desenvolvimento pela equipe do mesmo laboratório, que está contando com a ajuda dos alunos e funcionários da USP para sua implementação. “O objetivo desse aplicativo é utilizar o histórico de geolocalização do celular para analisar para onde as pessoas vão e, baseado nessas informações, saber onde tem criadouros de mosquitos, responsáveis por transmitir doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, enfatizou.

Mas, como é possível relacionar uma coisa à outra? Helder explica: “Quando o paciente chega doente ao hospital, esses dados de geolocalização são coletados e é feito um upload no sistema. Dados da localização de diversos pacientes são convergidos, sendo possível enquadrar uma área onde possivelmente está localizado um criadouro de mosquito. O objetivo é ajudar na vigilância em saúde e avisar as pessoas de que naqueles locais estão tendo muita incidência da doença em questão, para que se evitar circular por ali. Dessa forma, podemos rastrear onde se começou uma epidemia e teremos subsídio para evitar que se alastre”.

Helder conclui comentando que o projeto está sendo financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates e que continuam contando com voluntários que queiram participar de uma pesquisa para tornar o aplicativo em realidade. “Estamos fazendo a avaliação do algoritmo de sobreposição em dados de geolocalização de alunos e funcionários da USP. A pesquisa apenas se aplica a pessoas maiores de 18 anos, que estudam ou trabalham no campus”. Conheçam mais sobre o projeto aqui.

 

Jornalista: Gabriella Ponte

 

 

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