O Curso de Especialização em Comunicação e Saúde oferecido pelo Icict/Fiocruz promoveu, dia 10 de março, a aula de abertura “Comunicação e Informação em tempos de zika”. O encontro teve o objetivo de analisar aspectos relacionados à cobertura, produção de informação e circulação de notícias sobre a epidemia de zika, tanto no contexto da grande mídia, quanto da comunicação pública.

Como parte integrante da disciplina Seminários Avançados em Comunicação e Saúde Coletiva, a aula contou com expositores convidados: Luis Castiel, professor e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Serio Arouca (Ensp/Fiocruz);  Inesita Soares de Araujo, professora do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) e pesquisadora do Observatório Saúde na Mídia do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces) do Icict/Fiocruz, ao lado de Raquel Aguiar, coordenadora de comunicação do Instituto Oswaldo Cruz e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS); e Guilherme Franco Netto, da Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) e especialista da Fiocruz em Saúde, Ambiente e Sustentabilidade.

Os coordenadores do curso Janine Cardoso e Igor Sacramento, pesquisadores do Laces/Icict/Fiocruz, deram as boas-vindas aos alunos. Logo após, o também pesquisador do Laces/Icict/Fiocruz, Rodrigo Murtinho, como mediador, começou falando sobre como é desafiador em época de emergência epidemiológica tratar de uma doença na mídia ainda pouco estudada, inclusive para os próprios profissionais de comunicação da Fiocruz. “Os erros cometidos pela imprensa ao tratar desse tema merecem ser estudados. Devemos pensar na maneira correta de passar essas informações. É um trabalho instigante e de compromisso com a saúde pública”.

 

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Janine Cardoso e Igor Sacramento deram boas-vindas aos alunos.

 

 

Análise de capas de jornal sobre zika

Com a palestra “A mídia em meio às emergências do vírus zika: questões para o campo da Comunicação e Saúde”, Raquel mostrou um estudo realizado na imprensa ano passado em cima de notícias de zika. “Analisamos nove jornais de grande circulação e suas capas com manchetes sobre a doença. Montamos uma linha do tempo desde os primeiros casos na Bahia e Rio Grande do Norte em maio até o assunto começar a ser tratado com mais seriedade, correlacionando com microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré em novembro e dezembro. No início, a zika era considerada uma doença sem gravidades até as informações começarem a circular nas redes sociais e surgirem boatos. Para evitar a circulação de dados incorretos, o Ministério da Saúde viu necessidade em divulgar, periodicamente, boletins epidemiológicos sobre zika e microcefalia”.

Já Inesita, em cima desses dados, fez uma série de questionamentos importantes para os profissionais de comunicação e saúde pensarem melhor no tratamento dessas informações. “O assunto era negligenciado, justamente pela doença ser nova e ter sua maior incidência no Nordeste. Será que a doença teria maior visibilidade logo no início se tivesse acontecido no Sudeste? Aconteceram muitas narrativas de sofrimento das mães com filhos que nasceram com microcefalia. Sensibilização ou sensacionalismo? As mães também se culpavam por contraírem a doença”, comentou a pesquisadora.

 

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Raquel Aguiar, Inesita Araújo, Luis Castiel e Guilherme Netto 

participaram do debate.

 

A limitação da ciência também foi uma problemática. Estudos ainda estão sendo feitos sobre a zika e, para Inesita, a mídia não está sabendo lidar como mediadora dos cientistas e da sociedade. “Não ajudou muito diversas fontes darem declarações contraditórias, algumas delas não autorizadas. Para evitar boatos, os jornalistas devem apurar e checar melhor as informações. A comunicação deve ser considerada como um mercado simbólico onde as vozes de todos os atores devem ser ouvidas: ciência, governo, pacientes com a doença. Mas será que todos estão sendo ouvidos?”, questionou Inesita.

 

 

Comunicação de Risco

Luis Castiel, com a divertida palestra “Repelente: a vida como ela é”, utilizou caricaturas, charges e memes das redes sociais sobre a epidemia da zika para ilustrar os problemas da midiatização da doença. “A comunicação do risco deve fazer o intercâmbio de informações entre o gerenciamento de risco e avaliação de risco sanitário. Devemos levar em consideração por que comunicar, quem é a audiência, o que o público alvo deseja saber, qual a mensagem que deve ser transmitida e como vamos comunicar essa informação. É preocupante a incerteza, insegurança e ansiedade da população que está obcecada com a busca da segurança”.

 

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Nísia Trindade afirma que este debate ajuda a analisar o papel
da Fiocruz ao lidar com essa epidemia.

 

A palestra “Comunicação e informação em tempos de zika”, ministrada por Guilherme Franco Netto, mostrou a necessidade de desenvolver modelagens de gestão da comunicação com qualidade. “O grande desafio é sistematizar a comunicação dos produtos e serviços que a Fiocruz está ofertando no combate ao mosquito Aedes aegypti. Um dos papeis da Fundação é tirar dúvidas da população e temos que concentrar nossos esforços nisso”, concluiu.

Para fechar, a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, contou a história de luta contra a dengue, que já dura 30 anos. “O combate ao mosquito Aedes aegypti deve se dar não só dentro das casas como também nos espaços públicos. Dessa forma, o governo, junto com a população, é capaz de eliminá-lo. Esse debate é extremamente importante para analisarmos aspectos imediatos e futuros sobre o nosso papel ao lidar com essa epidemia, sobre os estudos realizados com relação a essas doenças e como se dá a comunicação científica efetiva do tema”.

 

Texto e imagens: Gabriella Ponte

 

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