O crescente aumento da resistência antimicrobiana perante os tratamentos com antibióticos tem se tornado um dos temas emergentes na saúde pública mundial. Para debater o assunto, representantes da indústria, instituições de pesquisa, órgãos de fomento e especialistas se reuniram, nos dias 19 e 20 de outubro em Washington, Estados Unidos.

Coordenando uma mesa redonda sobre anticorpos monoclonais como alternativa ao uso de antibióticos e representando o Brasil no encontro, esteve o pesquisador do Laboratório de Tecnologia Recombinante (Later) e do Programa de Biofármacos de Bio, Jose Procopio Moreno Senna. 

“Em um contexto de escassez das fontes de descoberta de novas substâncias e aumento da resistência aos antibióticos, terapias alternativas precisam ser desenvolvidas. Me orgulha muito representar a Fiocruz e ver como a unidade é reconhecida internacionalmente por seu trabalho em prol da saúde pública”, declara. Procópio lidera duas linhas de pesquisas com anticorpos monoclonais em Bio-Manguinhos, uma focada em estafilococos multirresistentes e outra emAcinetobacter baumannii, principais causas de infecções no ambiente hospitalar.

“Na mesa redonda, todos concordaram que um dos passos para driblar a inexistência de um produto para combate a estas bactérias superresistentes seria considerar tais medicamentos como drogas órfãs, o que poderia acelerar as etapas das pesquisas e obter resultados mais eficazes”, detalhou. O microbiologista afirma que as dificuldades nos investimentos para novas drogas residem nos altos custos, o que tem levado a indústria farmacêutica a preferir trabalhar com moléculas já descobertas”, revelou.

 

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Evento debate o crescente aumento da resistência antimicrobiana
perante os tratamentos com antibióticos. Imagem: Divulgação

 

Outros desafios são as complexidades da escolha do alvo, os mecanismos de ação do anticorpo, reprodução dos resultados obtidos no modelo animal em humanos e o desenho dos ensaios clínicos. "Para ter maiores chances de sucesso, o anticorpo monoclonal precisa ter atividade neutralizante, ou seja, de eliminar o patógeno sem depender do sistema imune do hospedeiro, uma vez que grande parte dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes em hospitais apresentam-se imunodeprimidos", ressalta. 

 

Cenário mundial

Em maio de 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou o primeiro relatório global sobre a resistência bacteriana - Global Strategy for Containment of Antimicrobial Resistance. Segundo conclusão da OMS a resistência a antibióticos é uma "ameaça global" à saúde pública.

A análise de dados de 114 países sinalizou a situação alarmante frente a resistência bacteriana em todas as regiões do mundo. “Estamos no rumo da ‘era pós-antibiótico’, em que pessoas morrem de infecções simples que são tratáveis há décadas”, concluiu Keiji Fukuda, diretor-geral assistente da OMS para Segurança da Saúde, na introdução do relatório. Bactérias normalmente sofrem mutações até se tornarem imunes a antibióticos, entretanto, o uso rotineiro de antibióticos na criação de animais e, principalmente, o mal uso desses medicamentos - como prescrição desnecessária por médicos ou suspensão de tratamento por pacientes - faz com que isso ocorra mais rápido, ressalva o relatório.

A resistência a antibióticos está colocando pacientes em risco tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, à medida que bactérias responsáveis por diversas infecções perigosas desenvolvem resistência às substâncias que costumavam combatê-las.

 

Jornalista: Isabela Pimentel

  

 

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