Quando olho para 2014, estou mais otimista do que nunca em relação ao progresso que podemos fazer utilizando o poder das vacinas para dar a todas as crianças – onde quer que elas vivam – um início de vida saudável. Temos novos recursos de dadores generosos em todo o mundo. Estamos desenvolvendo novas e melhores vacinas para proteger as crianças de doenças mortais e encontrando formas inovadoras de as distribuir, especialmente em áreas de difícil alcance.

Um dos desenvolvimentos mais excitantes – e, muitas vezes, negligenciado – no esforço mundial para dar a todas as crianças acesso a imunização é o papel crescente dos fornecedores de vacinas dos países emergentes. Países como o Brasil, China e Índia têm enfrentado muitos desafios na saúde e desenvolvimento e têm feito enormes progressos. Agora utilizam a sua experiência e capacidade técnica para ajudar outros países a fazerem progressos semelhantes.

Provavelmente, muitos nunca ouviram falar de empresas farmacêuticas como Serum Institute of India, Bharat Biotech, Biological E, China National Biotec Group, e Bio-Manguinhos, para nomear apenas algumas – que se têm tornado nas nossas mais valiosas parceiras na saúde mundial. Ao aproveitar o mesmo espírito inovador que transformou os mercados emergentes em centros industriais de todo o tipo de produtos desde carros a computadores, estas empresas tornaram-se líderes na oferta ao mundo de vacinas de elevada qualidade e baixo custo.

O aumento da concorrência e as novas abordagens industriais criadas por estas empresas têm tornado possível proteger uma criança de oito doenças principais – incluindo tétano, coqueluche, poliomielite e tuberculose – por menos de 30 dólares. O Serum Institute produz um volume mais elevado de vacinas do que qualquer outra empresa no mundo e desempenhou um papel chave no corte de custos e no aumento de volumes.

Graças aos esforços destes fornecedores e dos seus parceiros próximos com a GAVI Alliance, fabricante multinacional de vacinas e doadora internacional, mais de 100 milhões de crianças por ano – mais do que nunca antes – têm sido imunizadas. Como mais fornecedores entram no mercado e estimulam a concorrência com técnicas industriais inovadoras, os preços deverão descer mais ainda.

Considere o progresso que tem sido feito com a vacina pentavelente salvadora de vidas, que protege um criança contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e haemophilus influenza type b (Hib) – numa só dose. Quando a GAVI Alliance a introduziu pela primeira vez em 2001, havia um fornecedor e o custo era de 3,50 dólares por dose. Como a procura pela vacina aumentou, a GAVI encorajou outros fornecedores a entrarem no mercado e o preço desceu. Agora há cinco fornecedores e a Biological E, uma empresa farmacêutica da Índia, anunciou no início deste ano que iria oferecer a vacina por apenas 1,19 dólares por dose.

Temos visto também os maiores países emergentes investirem em tecnologia biomédica para fornecer os países em desenvolvimento com as novas vacinas. O departamento de biotecnologia da Índia e a Bharat Biotech anunciaram, este ano, os planos para lançar uma nova vacina contra o rotavírus – que mata centenas de milhares de crianças – por um dólar por dose, significativamente mais barata do que as vacinas existentes. Do mesmo modo, uma empresa de biotecnologia chinesa ganhou a aprovação, em Outubro, da Organização Mundial de Saúde para trazer ao mercado uma vacina melhorada para proteger as crianças contra a encefalite japonesa. No mesmo mês, o centro de pesquisa e desenvolvimento biomédico do Brasil, Bio-Manguinhos, em parceria com a Fundação Gates, anunciou a intenção de produzir uma vacina combinada de sarampo e rubéola.

Quando comecei a me envolver na saúde mundial, há mais de 15 anos, este tipo de anúncios eram raros. O campo das vacinas era dominado por um conjunto de multinacionais farmacêuticas em países ricos, onde todo o setor sofre de falta de concorrência. Atualmente, as fabricantes dos países emergentes produzem cerca de 50% das vacinas compradas pelas agências das Nações Unidas para utilizar no mundo em desenvolvimento, acima dos menos de 10% em 1997.

As contribuições dos produtores de vacinas dos países emergentes frequentemente complementam o trabalho dos seus pares em países desenvolvidos. De fato, algumas das ideias mais inovadoras têm vindo dos seus esforços combinados. A Fundação Gates apoiou uma grande parceria entre o Serum Institute of India e a SynCo Bio Partners, uma produtora holandesa de vacinas, para produzir uma vacina de baixo custo para proteger mais de 450 milhões de pessoas em África da meningite. Este ano, a Biological E anunciou duas grandes parcerias com fabricantes multinacionais de vacinas. Uma parceria conjunta com a GlaxoSmithKline vai produzir uma vacina seis-em-um para proteger as crianças contra a poliomielite e outras doenças infecciosas; outra, com a Novartis, vai produzir duas vacinas que vão proteger milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento da febre tifóide e paratifoide.

Apesar de todo este progresso, deve ser feito mais para atingir a meta de 22 milhões de crianças, principalmente nos países mais pobres, que não têm acesso a vacinas salva-vidas. Sem proteção contra doenças mortais como o sarampo, a pneumonia e o rotavírus, é negada a muitas destas crianças a possibilidade de crescerem de forma saudável, frequentar a escola e terem vidas produtivas. Os seus países perdem também. A doença rouba a um país pobre a energia e o talento das suas pessoas, aumenta os custos de tratamento e dificulta o crescimento económico.

Vivemos num mundo onde temos o poder de corrigir esta injustiça. Temos o know-how para produzir vacinas eficazes, torná-las acessíveis e distribui-las às crianças que precisam delas. Os produtores de vacinas de países emergentes são uma parte crítica deste processo. Graças às suas contribuições, chegando o dia em que todas as crianças podem ter um início de vida saudável.


* Bill Gates é co-presidente da  Fundação Bill & Melinda Gates  (artigo publicado no Jornal de Negócios) 

 

 

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