barbeiroEm apenas sete meses, o número de casos comprovados de doença de chagas no Acre aumentou mais de 200% em relação ao registrado durante todo o ano de 2015. Os dados, da Divisão de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), mostram que foram registrados 6 casos no ano passado contra 19 até agosto de 2016.

Os casos mais recentes foram registrados na zona rural do município de Feijó, interior do Acre. Em julho, 13 pessoas de uma mesma família foram internadas no Hospital Geral da cidade e a Saúde suspeita que a contaminação tenha sido pelo açaí.

A Saúde informou que havia uma grávida de três meses entre os pacientes e que ela não participou do tratamento, juntamente com os outros 12 parentes. A grávida foi transferida para Rio Branco para fazer mais exames e recebeu alta no início de agosto, retornando para casa.

Ao G1, a técnica responsável pela Doença de Chagas e Leishmaniose da Sesacre, Carmelinda Gonçalves, disse que em 2016 os casos foram registrados nas cidades de Cruzeiro do Sul, Feijó e Rodrigues Alves, sendo que nesta última a Saúde comprovou a morte de duas pessoas pela doença.

Já em 2015, foram registrados casos da doença nas cidades de Tarauacá (2), Jordão (2), Rodrigues Alves (1) e Cruzeiro do Sul (1). "Quando se investiga mais, se encontra mais. Foi inusitado o caso dos 13 em uma família. Se não fosse isso, só teríamos seis casos", relata.

 

Relação entre doença de chagas e malária

Carmelinda acrescenta que a maioria dos casos foi registrada na região do Vale do Juruá e do Envira e os relaciona com os índices de malária.

"O agente causador de chagas aparece também nas lâminas de malária. A gente orienta que as pessoas que olham essas lâminas, que são os microscopistas, tenham um olhar diferenciado e logo que encontrem um material sugestivo mandem para nós", conta.

 

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Barbeiros são agentes causadores de chagas. Imagem: Divulgação.

 

Ela relata também que está conversando com os médicos das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital Rio Branco para que eles perguntem aos pacientes se viram ou tiveram contato com barbeiros.

"Onde tem malária ajuda, porque conseguimos ver através da lâmina a fase inicial. Na fase avançada é mais complicado, só dá para ver com exames de sorologia", explica.

 

Pacientes receberam alta

A técnica falou ainda sobre a alta médica da família internada no interior do estado e também sobre os pacientes transferidos para a capital acreana. Todos os parentes já receberam alta médica, mas retornam ao hospital para avaliações a cada dez dias. A grávida, juntamente com os outros dois familiares, retornaram para Feijó há duas semanas, conforme Carmelinda.

"Eles estão tomando a medicação e sendo avaliados ainda pelos médicos. O que orientamos é muito cuidado no manuseio do açaí. Diferente do que pensávamos, a suspeita mais forte é o suco do açaí. Eles mesmo fizeram o açaí, não foi a bebida feita na cidade", diz.

Ainda conforme a técnica, o filho de quatro anos da mulher grávida também foi contaminado pela doença. "Ela está bem. Acho que de todos é a que está melhor, mas só vai ser tratada quando tiver o bebê. Ela faz os mesmo exames que os outros", enfatiza.

Carmelinda disse que uma equipe vai até a comunidade onde os últimos casos foram registrados, em Feijó, no próximo dia 29 para iniciar a investigação sobre os casos. "A gente trabalha com a possibilidade mais forte, que é o do açaí. O resultado  deve sair até o dia 2", conclui.

 

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Equipe da Fiocruz está na região do Vale do Juruá, no interior do Acre.
Imagem: Carmelinda Gonçalves/Arquivo pessoal.

 

Mortes

Em março deste ano, o casal Francisco Maian da Costa, de 18 anos, e Celiana Silva, de 17, nos dias 26 e 29 de fevereiro, respectivamente,morreram após tomar açaí contaminado pelo barbeiro. A família do casal mora em uma comunidade rural da cidade de Rodrigues Alves, a 627 km da capital acrena. Inicialmente, a doença de Chagas era apenas a suspeita,sendo confirmado o diagnóstico no dia 11 de março pela Saúde do Acre.

Duas irmãs de Costa também foram diagnosticadas com a doença. A pequena Francisca Adrielly, de 12 anos, ficou internada por mais de um mês no Hospital da Criança, em Rio Branco, e ficou com uma lesão no coração, por causa da enfermidade, segundo a médica que a atendeu.

Pesquisa

Dois meses após os casos em Rodrigues Alves, a coordenação que trata sobre doença de Chagas no Acre visitou as cidades da região do Vale do Juruá, como Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo. A medida fez parte de uma campanha de prevenção e conscientização após a região registrar nove casos da doença.

Uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília também esteve no local e fez pesquisas na comunidade Nova Cíntra, onde sete casos da doença foram confirmados neste ano.

 

Fonte: Aline Nascimento - G1 Acre

 

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