Por Patrícia Brasil e Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro*

Engenheiros, missionários, executivos, militares, pesquisadores: é crescente o número de funcionários de empresas brasileiras na África.
Como muitos países daquele continente comportam extensas áreas de transmissão da malária, também cresce, infelizmente, o número de mortes entre viajantes. No Brasil, fora da Amazônia a malária mata, proporcionalmente, 80 vezes mais do que em áreas de endemia. Não é difícil entender: se na Amazônia a doença é comum e até o porteiro do posto de saúde arrisca (e acerta) o diagnóstico ao ver adentrar o paciente febril, fora da área endêmica a febre leva comumente à confusão com outros diagnósticos, como dengue. A pouca familiaridade com o diagnóstico da malária por parte de médicos de áreas sem transmissão acabam levando ao retardo no diagnóstico e ao tratamento tardio, principal causa de morte da malária.


No Rio de Janeiro, Recife ou Porto Alegre temos o mesmo problema que em Berlim, Nova Iorque ou Sidney: dispomos de todas as possibilidades metodológicas e recursos técnicos para identificação da doença, mas eles de nada servem se o médico não pensar na malária como possibilidade diagnóstica.


Para falar dessa circunstância, evocamos o Dia Internacional da Mulher de 2007. Nesse dia, deu entrada no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) uma missionária de 40 anos, com febre, após retorno de uma viagem a Moçambique.


Após um périplo de seis dias por hospitais das redes pública e privada do Rio, onde recebeu invariavelmente o diagnóstico de dengue, a paciente foi orientada a procurar um especialista em doenças infecciosas. Na Fiocruz, o diagnóstico foi feito imediatamente e o tratamento adequado instituído minutos após a sua chegada, mas era tarde demais.


Este relato triste permite chamar a atenção para o fato de que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da doença são nossas maiores armas para impedir a evolução para formas graves e óbito por malária. Tivesse a paciente sido diagnosticada no primeiro dos hospitais onde buscou socorro, sua vida teria sido certamente poupada. Ela foi, portanto, mais do que vítima da virulência do parasito. Foi vítima da desinformação.


Assim, se fôssemos reduzir este artigo a apenas algumas linhas, diríamos que a malária é uma doença causada por um parasito e transmitida pela picada do mosquito vetor – é, portanto, evitável pela prevenção do contato do homem com o inseto. É curável mediante tratamento eficaz e gratuito em todo o Brasil, desde que o diagnóstico seja feito precocemente e o tratamento adequado instituído imediatamente.


Informar médicos e viajantes é, portanto, tão importante quanto tratar os pacientes e controlar a transmissão no país. Nesse contexto, a existência de Centros de Informação, Aconselhamento e Atendimento com infectologistas treinados para orientar os viajantes e diagnosticar doenças infecciosas fora de suas áreas habituais de transmissão é uma realidade que precisa ser divulgada e reproduzida em vários estados do Brasil.

 

*Patrícia Brasil e Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro são médicos e pesquisadores da Fiocruz

Versão integral do artigo originalmente publicado em O Globo em 17 de maio, sob o título Falta mais informação.

 

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias

Outros artigosarrow-2

Alerta de cookies

Este site armazena dados temporariamente para melhorar a experiência de navegação de seus usuários. Ao continuar você concorda com a nossa política de uso de cookies.

Saiba mais sobre nossa Política de Privacidade clicando no botão ao lado.